O ano era 1651 e a localidade a cidade de São Paulo. Os personagens dessa história são Henrique da Cunha Gago e Cristóvão Cunha.

Foram esses dois que solicitaram aos poderes públicos da época um terreno que estivesse apto para progredir e desenvolver o movimento de São Paulo que, até então, era apenas uma pequena vila.

A carta enviada por eles tinha a seguinte mensagem:

“Pedem os abaixos assinados a Vossas Mercês que lhes dêem a cada um trinta braços de chão no rócio desta vila, entre dois ribeiros chamados de Anhangobay e Yacuba, o qual o chão se começará a medir do caminho que vai para Piratininga de fronte do chão de João Pires e da banda de umas casas de Maria Morena, até outros trinta braços de quintal para a banda do ribeiro Yacuba.”

Esse era o procedimento para conseguir terreno na época. Um simples pedido para as autoridades. O interessante é lembrar o que foi em todo esse tempo a atual Avenida São João. Por lá existia uma fonte que alimentava os ribeiros, derivando de uma pequena bica que saía da Rua do Seminário e da Ladeira de Santa Ifigênia.

O córrego, que passava por ali, era chamado de Yacuba, mas também foi conhecido pelo nome de Guaçu. Tal córrego, formado da fonte que borbulhava na Ladeira de Santa Ifigênia, ia desaguar no atual Vale do Anhangabaú, ligando-se à corrente d’água que saía do Tanque do Zuniga, atual Largo do Paissandú.

Ladeira do Açu no fim do século XIX
Ladeira do Açu no fim do século XIX

Nascia assim uma tosca trilha de terra batida que fazia a ligação dessas propriedades com a chamada colina histórica de São Paulo.

Ali perto, desembocava outra rua que até hoje é conhecida por Rua Brigadeiro Tobias. Ela possui esse nome graças a um importante membro das forças armadas que possuía um velho e enorme casarão, tipo sobrado, que pertenceu ao Brigadeiro e sua esposa.

A maior abertura da região, hoje chamada de Praça Antonio Prado, era conhecida como Largo do Rosário, porque ali é que estava antes a antiga Igreja do Rosário que depois acabou sendo transferida para o Largo Paissandú.

Desse ponto em diante, ela transformava-se na “Estrada de Jundiaí”, caminho muito utilizado por tropeiros que seguiam em direção ao interior do Estado.

Para transpor o Ribeirão Anhangabaú, existia uma ponte conhecida como “Ponte do Acú”. Por isso a Ladeira do Acú era também conhecida como “Ladeira da Ponte do Acú”. E como Ladeira do Acú, a São João permaneceu durante todo o século XVIII. E por que São João? De fato, trata-se de uma homenagem a São João Batista, considerado o “protetor das águas” na tradição católica.

Buscando as raízes dessa homenagem, verificamos que os cursos d’água que cruzavam a antiga “Ladeira” eram considerados perigosos para os antigos paulistanos: Yacuba ou Acú, significa em Tupi “Água Envenenada”; esse córrego margeava o atual edifício dos Correios e desaguava no Anhangabaú que, também no Tupi, significa “Águas Assombradas” ou Águas do Diabo”.

Não obstante a questão do perigo das águas, devemos nos lembrar que as encostas do Vale do Anhangabaú, no final do século XVIII e início do século XIX era uma região de matas e local onde se escondiam assaltantes e escravos fugidos. Por tudo isso, as procissões em homenagem a São João Batista tinham como roteiro certo uma passagem pela Ladeira do Acú.

Assim a tradição tomou vulto e a Ladeira passou a ser conhecida como “Ladeira de São João Batista”. No dia 28/11/1865, o vereador Malaquias Rogério de Salles Guerra sugeriu que a ladeira “da ponte do Acú” fosse denominada como “Ladeira de São João”.

Mais tarde, ela se transformou em Rua e, depois, em Avenida São João. Entre 1910 e 1937, sucessivas reformas, alargamentos e prolongamentos foram realizados. Numa de suas últimas reformas, entre as décadas de 80 e 90, a construção do novo “Vale do Anhangabaú” alterou o seu início, dando origem ao “Boulevard São João”.

Avenida São João na década de 50
Avenida São João na década de 50

2 Comments

  1. Ate’ os anos 1970, era a principal avenida da capital paulista, onde havia desfiles civicos e de escolas de samba. A rodoviaria na Pc Princesa Isabel, nao ficava longe, assim como as estacoes de trens da FEPASA e da Luz, Cinemas da Republica/Ipiranga, hoteis, templos/igrejas, sem contar casas de shows, restaurantes, a imprensa, predios renomados, grandes galerias e lojas de depto como Ducal, Mesbla e Mappim. Apesar de o Centro Novo, expandido, ou financeiro ter-se mudado p/ as Avs. Paulista, Faria Lima e mais tarde Berrini, a nossa Wall Street –a BOVESPA– continua no final da ladeira, na R. Boa Vista. Espera-se que restaurem mais predios, a exemplo da Cidade das Artes na S. Joao/Anhangabau e ocupem predios abandonados a precos modicos p/ o trabalhador que vem de longe e mude-se situacao de desleixo e imundicie, abrigando e recuperando-se populacoes de rua.

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