Um Poeta Reconhecido – A História do Barão de Paranapiacaba

Muitas vezes, a origem de importantes nomes da história do nosso país fica perdida no tempo e se torna corriqueiro esquecer grandes pensadores e intelectuais brasileiros.  Um dos casos mais famosos desse esquecimento é o famoso Barão de Paranapiacaba, que empresta seu nome a uma via do centro de São Paulo.

João Cardoso de Menezes e Sousa, nascido na cidade de Santos, no dia 25 de abril de 1827 foi um importante poeta e jornalista brasileiro. Ele começou seus estudos fundamentais na sua cidade natal e em São Paulo, ingressando aos 17 anos na faculdade de Direito. Aos 21 anos, Menezes já era bacharel em ciências jurídicas e sociais, defendendo tese e doutorando-se no ano seguinte.

Barão de Paranapiacaba
Barão de Paranapiacaba

Durante seu curso, José Cardoso chamou muita a atenção como um grande orador elegante e eloquente, brilhando e se destacando muito na sua época de estudante. É desse período o lançamento de seu primeiro livro: Harpa Gemedora, um dos primeiros livros de poesia publicados em São Paulo.

Livro do Barão de Paranapiacaba
Livro do Barão de Paranapiacaba

Anos depois, Cardoso se dedicou ao ensino do direito, em escolas e cursos particulares, mudando-se para Taubaté, onde ficou algum tempo ensinando Geografia e História para os mais jovens.

Passou, depois, para o Rio de Janeiro, onde teve banca de advocacia, até 1857 ou 1858. A partir de um convite de alguns admiradores de sua inteligência, de sua cultura e principalmente do seu caráter, começou a fazer parte do funcionalismo público, como ajudante do procurador fiscal do Tesouro Nacional, onde percorreu todos os postos superiores, desempenhando várias comissões dessa repartição, no Rio, em São Paulo e em Pernambuco, sempre apontado como servidor extraordinário, até aposentar-se como diretor geral do importante estabelecimento.

Na legislatura de 1873 a 1876 serviu como deputado pela então província de Goiás. Mais ou menos na mesma época era elevado a dignitário da Ordem da Rosa, chamado para o Conselho do Imperador, e eleito membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, onde se reunia o escol literário e científico do Rio de Janeiro, com o imperador à frente.

Galeria dos Poetas, Prosadores e Jornalistas de Santos
Galeria dos Poetas, Prosadores e Jornalistas de Santos

Pouco depois, o imperador lhe concedeu o título de barão de Paranapiacaba, que lembrava a grande serra a cavaleiro de sua cidade natal. Também o Conservatório Dramático do Rio de Janeiro fez dele seu membro e presidente pouco depois, por sua colaboração em favor do teatro brasileiro. A literatura nacional deve-lhe serviços inestimáveis, tanto por suas obras, como pelas traduções de clássicos, até então inexistentes em português, mercê do conhecimento profundo que tinha de inúmeros idiomas, vivos e mortos, notadamente o inglês, o francês, o italiano, o grego, o latim e o hebraico.

O Barão de Paranapiacaba também foi um colaborador exemplar de diversos jornais, principalmente no Correio Mercantil e no Jornal do Commércio.

Publicou 30 obras de sua autoria e 15 traduções. Entre suas obras principais, contam-se: Harpa Gemedora, Oração Fúnebre, O christianismo, Christo e o racionalismo, O sacrifício do Golgotha, Theses de colonização do Brasil, Byron, Camoneana brasileira, Um sermão na Capela imperial, A serra de Paranapiacaba, Babylonia, Imprecação do índio, O imperador, Auxílio à lavoura etc., e entre as suas traduções: A marmita, de Mário Accio Plauto; Oscar d’Alva, de Byron; Jocelyn, O christão moribundo, A lâmpada do templo, Leonor e Rodolpho, de Lamartine; O primeiro livro de fábulas, Os companheiros de Ulysses e O segundo livro de fábulas, de La Fontaine; Masepa e corsário, Giaour, de Byron; Prometheu, de Eschylus; Antigone, de Sófocles; Alceste, de Eurípedes; e Nuvens, de Aristófanes.

Sua última obra foi Poesias e prosas selectas, de 1910, com prefácio de Quintino Bocayuva. Faleceu este ilustre santista a 2 de fevereiro de 1915, no Rio de Janeiro, com a avançada idade de 88 anos.

Abaixo, uma de suas poesias mais famosas:

CORAÇÃO MORTO

Oh! Morto o coração, quão triste é a vida!

 

Que me resta dos gozos do passado?

Uma por uma, as ilusões murcharam;

Saciado de amor, já não me afagam

Sonhos, que outrora a vida me embalaram.

 

Amei com todo o anelo e forças d’alma,

Ao despontar da aurora da existência;

Era um amor do céu, velado ao mundo

Pelo sagrado pálio da inocência!

 

Veio o gelado sopro do deleite,

Essa divina flor crestar no agraço.

Fugiste, anjo do amor, batendo as asas

Para as etéreas regiões do espaço.

 

Se hoje do extinto amor brilha um reflexo

No coração, que lânguido palpita,

É como a luz da moribunda chama,

Que numa pira fúnebre crepita.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *