Para inaugurar o novo espaço de entrevistas e conversas com quem dialoga com a cidade, chamamos para uma conversa o fotógrafo Dudu Tresca.

Autor de uma das mais “polêmicas” fotos da cidade, onde aparecem “montanhas” no fundo da Avenida Paulista, Dudu tem uma longa carreira, andando e clicando o Brasil em diferentes climas, biomas e situações. Convidamos a todos a conhecer mais do trabalho dele em seu site e instagram.

Ah…um pequeno spoiler: a foto é real e não tem montagem!

SP In Foco: Dudu, com quantos anos você começou a fotografar?

Dudu Tresca: Comecei a fotografara com uns 15/16 anos, quando montei meu primeiro laboratório. Lembro que vendi um trem elétrico e um autorama para bancar os equipamentos.

Meu pai adaptou um canto da marcenaria, que era o hobby dele, com água corrente para que eu pudesse começar. Era pequeno, mas super funcional.

Eu estudava no Liceu Pasteur francês e, com todo meu entusiasmo, consegui montar um clube de fotografia e um espaço para montar um laboratório. Infelizmente, hoje, ele não existe mais.

SP In Foco: Quais as primeiras fotos que você tirou?

Dudu Tresca: Boa pergunta! As primeiras fotos que tirei foram de amigos.

Eu acho que tinha uns 14 anos e clicava com uma Rolleiflex do meu pai. Ela usava um filme menor que dava negativos 4×4. Tenho ela até hoje.

Na época era só PB que eu revelava no meu pequeno laboratório em casa. Várias me marcaram. Devem estar em alguma caixa…. onde? Boa pergunta!

SP In Foco: Quando você decidiu que seu hobby seria sua profissão?

Dudu Tresca: Eu estava acabando o ginasial e já queria ir para França estudar fotografia.

Mas meus pais me aconselharam a acabar o Liceu passando o bacalaureat que ė o exame de conclusão para poder seguir no ensino superior.

Foi o que fiz e, antes de acabar, eu já estava fotografando teatro. A primeira peça se chamava “Um tiro no escuro”.

Logo depois fui trabalhar como assistente em um estúdio que atendia uma agência de propaganda, a Denison e de lá fui para o estúdio da Editora Abril sob a direção de Chico Albuquerque. E nunca mais parei!

SP In Foco: Qual seu primeiro trabalho profissional como fotógrafo? E, nessa linha, qual o trabalho que você mais se orgulha de ter feito?

Dudu Tresca: O trabalho que fiz para revista Via Cinturato viajando fora de estrada pelo Brasil nos anos 80. E em especial uma série que fiz para um calendário da Dupont, em Los Roques, um parque nacional no Caribe venezuelano .

Em 2013 fui contactado e depois contratado por uma agência de Istanbul para quem eu já tinha feito, em 2008, uma série de fotografias 360º para divulgar a cidade que seria Capital Europeia da Cultura. Este novo job seria em Chipre para uma Marina.

Quando pedi referências para ter uma ideia do que eles queriam, equipamento etc, uns dias depois recebi um email com um pdf. Qual foi minha surpresa ao abri-lo: eram fotografias minhas tiradas do meu site….

SP In Foco: Falando, agora, de São Paulo. Qual bairro mais fotogênico da cidade? E, claro, qual o menos?

Dudu Tresca: Acho que todos os bairros tem seus encantos. O importante é o olhar do fotógrafo, sua curiosidade, interesse e sua paciência em esperar o momento certo para seu “clique”.

Em 2018, fiz um trabalho na Brasilândia com grafiteiros fotógrafos. Orientei eles e fiz a curadoria das fotos que eles fizeram da vida na Praça 7 jovens. Esse material foi selecionado e exposto no Festival Photoreporter le OFF na cidade de Saint-Brieuc na Bretanha, na França.

Essas fotografias pode ser vistas em https://www.7jovens.com.br/photoreporter-2109 , site que montei na ocasião.

Um dos cliques mais polêmicos de São Paulo. Não é montagem!

SP In Foco: Como não podia deixar de ser, vamos à foto mais polêmica da carreira. No fim das contas, é montagem ou não essa foto da Avenida Paulista com uma “montanha” no fundo?

Dudu Tresca: Rssss. Essa foto já deu muito pano pra manga. Naquela época trabalhávamos com filmes. O digital era coisa de ficção cientifica. Muito longe da nossa realidade.

Uma das poucas manipulações que se fazia era fazer girar as rodas de um carro em anúncios pelo simples fato de ser caro, só havia 1 ou 2 pessoas que tinham a técnica e a competência  e demoravam uma boa semana para o trabalho ficar pronto.

Quando fiz esta foto*, entre 1979 e 1983, eu estava trabalhando na realização de um livro: “São Paulo, Corpo e Alma”, e o MASP não poderia faltar. Eu estava fotografando o interior do museu quando olhei pela janela bem no canto do prédio e vi esse mar de fusquinhas coloridos. Foram 2 cliques!

Eu fiz esse registro do 2º andar do MASP com uma 500mm Do prédio do Masp vc tem uma vista privilegiada em direção à Consolação. Os prédios estão mais distantes da calçada. Ah…aquilo ao fundo é o Espigão do Jaraguá!

Naquela época cada foto era pensada. Os filmes permitiam, no formato 35mm, fazer 36 fotos (sabendo carregar a câmera, a gente conseguia 38 poses), eram caros, precisava revelar, outro custo.

* Essa foto acabou não entrando no livro. A data foi corrigida após a publicação do texto por pedido do fotógrafo

SP In Foco: Como você vê a fotografia moderna? É mais “fácil” que na sua época?

Dudu Tresca: Com certeza “mais fácil”. Pessoalmente não tenho saudade do “filme”. Me adaptei bem ao digital e gosto das possibilidades que ele me dá, particularmente o celular cada dia mais eficiente, leve e discreto.

Me lembro de viagens com mais de 30 dias fotografando mato adentro sem ver o que estava fotografando. A câmera podia estar com um problema qualquer e eu só ia descobrir na volta. Para não ter surpresa, a gente numerava e datava os filmes e fazia “testes de ponta” em alguns deles (consistia em revelar só a ponta do filme com 2 ou 3 fotogramas) e íamos acertando o tempo de revelação. Essa hora e meia esperando a saída dos filmes era tensa…

O bom é que, uma vez as fotos reveladas e selecionadas, não precisava perder horas no computador tirando pelo em ovos como se faz hoje e não havia 50 a 100 fotos iguais para escolher a melhor.

A grande diferença e facilitador na fotografia de hoje é o celular, o automatismo das regulagens das câmeras e principalmente poder olhar na hora o resultado. Isso abriu um novo universo para praticamente todo mundo.

São mais de 4 bilhões de pessoas fotografando hoje em dia, mas isso não faz deles fotógrafos. Fotografar é muito mais do que apertar o botão do obturador. Mas acho válido toda procura e pesquisa de novas linguagens que a tecnologia permite hoje.

Só o tempo nos dirá, o que vai ficar para eternidade desse bilhões de imagens.

O segundo clique, tão polêmico quanto!

4 Comments

  1. Pois então a Polêmica continua.
    Me perdoe o autor da foto,, mas NUNCA que esta foto é de 1989….não se vê nenhum Uno, Gol, Santana, Escort, Monza e tambem, nenhum onibus MB 0364….todos tradicionalíssimos neste ano

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