Para quem vive na zona leste de São Paulo, o nome Bresser é uma referência, tanto para estação de metrô, quanto para rua e viaduto. Esse nome, oriundo de uma importante família que fez história na cidade de São Paulo, está espalhado, também, pelas vilas Gustavo Bresser e Júlia Bresser, que ficam na proximidade da Rua Silva Teles e a Vila Izaura Bresser, na Rua Cachoeira.

No resgate de hoje, entretanto, falaremos do patriarca dessa grande família: Carlos Bresser, um engenheiro que chegaria para auxiliar no desenvolvimento da nossa querida cidade.

Comecemos, então, essa bela história. O início dessa trajetória é datado de 15 de junho de 1838, quando uma carta endereçada pelo então prefeito da cidade alemã de Krefeld ao major Johann Bloem, diretor-geral das Usinas Siderúrgicas do Império do Brasil, ela recomendava os serviços de Karl Abraham Breβer.

Dentro dessa carta, vale destacar o seguinte trecho: “O geômetra (agrimensor) sr. Breβer comunicou-me a sua decisão de viajar convosco, ilustríssimo senhor para o Brasil, a fim de ser empregado na construção de estradas e pontes de lá. Tão penoso que isso seja ora para mim, ver o sr. Breβer partir daqui, visto que os seus prestamentos são da mais essencial utilidade para a comunidade daqui, eu, todavia, tenho o maior prazer de fazer-lhe tudo que a seguir possa ser útil para o mesmo”.

Outro trecho importante é esse: “O sr. Breβer tem aqui o suficiente para viver; é casado e respeitado pelos seus concidadãos. Ele merece também esta benevolência, porque possui conhecimentos e habilidades bem fundados na sua especialidade e porque a sua conduta de vida se apresenta modular e realmente imaculada”.

Assim, apesar de não querer que Breβer saísse da Alemanha, seus compatriotas desejavam sorte ao engenheiro. Ao chegar ao Brasil, através do navio Clementina, Karl Abraham Breβer passou a assinar Carlos Abrão Bresser. Logo de cara, Bresser foi chamado para trabalhar com o Marechal Daniel Pedro Muller, primeiro diretor de Obras Públicas da Província de São Paulo.

Registro de Carlos Abrão Bresser
Registro de Carlos Abrão Bresser

Seu cargo seria o de major de engenheiros, ou seja, iria ser responsável pelas obras na pequena cidade de 60 mil habitantes.  Sua trajetória em São Paulo foi magnífica, sendo o responsável por obras importantíssimas para a expansão a metrópole.

As principais obras de Carlos Abrão foram: Ponte do Carmo (primeira sobre o Tamanduateí), Ponte de Sant’Anna (sobre o Rio Tietê), Retificação do curso do Rio Tietê, Primeiro Matadouro Municipal (construção que ficava na Liberdade e foi inaugurado em 1849), Primeira planta da cidade de São Paulo, Reconstrução da Estrada de Lorena (ou estrada nova de Cubatão, depois chamada de Estrada do Mar).

Foto tirada em 1862, por M. A. Azevedo da Chácara Bresser ou Haus Bresser
Foto tirada em 1862, por M. A. Azevedo da Chácara Bresser ou Haus Bresser

Vale destacar que, essa última obra, foi a mais importante do engenheiro no país. Era um trajeto feito em um terreno alagadiço dos dois lados e, sua construção, foi uma façanha para a engenharia da época. Sua contribuição foi tão valiosa que, inicialmente, a Câmara Municipal chamaria a estrada de Carlos Abrão Bresser, mas por motivos políticos, acabou resultando na Estrada do Vergueiro, em homenagem a Nicolau Pereira de Campos Vergueiro.

Além das obras citadas acima, o engenheiro ainda participou de duas outras famosas construções: o Hotel des Voyageurs e Hotel Palm. O segundo, inclusive, chegou a ser moradia do próprio engenheiro e foi oferecido como pensão por algum tempo.

Hotel_Palm

Pelo lado pessoal, visando seu benefício, Bresser começou a construção, em sua chácara, de mais de 200 casas e galpões para que ele e seus descendentes pudessem fazer fortuna com os aluguéis. A família Bresser teria descendentes extremamente famosos.

Carlos viveu com Ana Clara Muller, irmã do Marechal que lhe deu o primeiro emprego em terras tupiniquins. A família foi composta por mais cinco filhos: Carlos Augusto, Clara Albertina, Carlos Adolfo, Carlos Alberto e Carolina Augusta. Ironicamente, Carlos e Ana Clara não eram casados de maneira oficial, o que fez com que o engenheiro tivesse que fazer alguns documentos no nome da esposa, para que ela tivesse direito a posse de bens.

Estima-se que Bresser tenha falecido em 27 de março de 1856, aos 52 anos de idade,  de hidropisia. Em seu testamento, de 13 de julho de 1850, Carlos Abrão Bresser havia deixado todos os seus bens a Ana Clara e aos filhos Carlos Augusto, Clara Albertina, Carlos Adolfo e Carlos Alberto. Carolina Augusta ainda não é citada, uma vez que nasceria quase três anos depois. Da íntegra do testamento podem-se, pela primeira vez, deduzir os nomes de seus pais, Christiano Germano Bresser e Elisabeta Himes.

Bresser já foi, também, nome de ministro de Estado, Luiz Carlos Bresser Pereira (trineto do primeiro Bresser no Brasil).  Entre outros cargos públicos, Bresser Pereira ocupou as pastas da Fazenda, durante o governo Sarney, em 1987, da Administração Federal  e Reforma do Estado e de Ciência e Tecnologia, no governo Fernando Henrique Cardoso. Bresser era igualmente o nome do plano econômico levado a efeito por ele naquela oportunidade.

Para encerrar essa história, durante 35 anos, entre 18 de outubro de 1902 e 5 de dezembro de 1937, circulou pelas ruas paulistanas um bonde chamado Bresser. A frota era composta por cinco veículos, com o número 38 e fabricados pela Hurst Nelson, uma famosa indústria inglesa.

O trajeto feito por esses veículos era de nove quilômetros e eles saíam do Largo do Tesouro — e, a partir de 1920, do Largo da Sé —, passando pelas ruas General Carneiro, Gasômetro, Travessa do Brás, Piratininga,  Visconde de Parnaíba, Hipódromo, Santa Cruz Bresser, Silva Teles, Maria Marcolina e Rangel Pestana.

Atualmente, um daqueles carros, totalmente restaurado conforme padrão da época, ainda percorre, a título de passeio turístico, um trajeto de 600 metros entre o Memorial do Imigrante e a Estação Bresser do Metrô. A passagem do nome Bresser, do bonde para o metrô, ressalta a importância da família para a região.

Quando foi inaugurado, em 23 de agosto de 1980, o trecho Brás/Bresser da linha vermelha teve a possibilidade de ser conhecido por outras alcunhas. Pensou-se em “hipódromo” e “Ipanema”, outras denominações muito ligadas à região. Nenhuma delas, porém, tem a mesma força do nome Bresser. Segundo um relatório da Companhia do Metropolitano emitido à época, “além de breve e eufônico, [Bresser] indica com exatidão um determinado ponto de linha por se tratar de cruzamento. Tem também raízes históricas no bairro. […]

Referência: http://www.bresserpereira.org.br/images/familiabresser.pdf

3 Comments

  1. Posso fornecer algum material que envolve a Princesa Sangusko (Germaine Bourchard) e Victor Nothman. especialmente do trecho entre a av, Pompeia em direção ao rio Tiete, até o Parque Fernando Costa, considerando o poligono formado pela atual av. Matarazzo, av Pompeia, Marginal Tiete e o Atual forum criminal,, subindo pela al. Olga até encontrar a av. Matarazzo. Uma área com mais de um milhão de m2. Tenho a planta original (não é cópia), datada de 1906.

    Att.

    Reginaldo Vitullo

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