O “pai” dos ônibus articulados: a história do “papa-fila”

Não faz muito tempo que mostramos a curiosa história do “Fofão“, ônibus de dois andares que veio para “resolver” o problema da mobilidade de São Paulo. Essa alternativa, que circulou por aqui no fim da década de 80, não foi a primeira tentativa milagrosa para oferecer melhores condições de transporte aos paulistanos.

Quase 30 anos antes da ideia de Jânio Quadros, entre os anos 50 e 60, uma ideia pareceu despertar um grande furor no poder público de cidades como São Paulo, São Bernardo do Campo, Santos, Porto Alegre, Brasília e Rio de Janeiro: os gigantes papa-filas, que nada mais eram do que carrocerias para passageiros movidas por um caminhão.

Segundo registros, o novo veículo transportaria 60 pessoas sentadas, o que era uma conquista para o padrão de mobilidade pública da época.

Exemplo de “papa-fila” que circulou por São Paulo

O conceito do “papa-fila” é americano e foi desenvolvido durante o período da Segunda Guerra Mundial. O transporte foi criado para deslocar funcionários da GM e em casos extremos, tropas de combate.

No Brasil, para construir o veículo, duas empresas assumiram o desafio: a FNM e a Massari, que era de São Paulo, e fazia as carrocerias. Essa empresa, inclusive foi fundada em 1953, e era especializada em carrocerias de caminhão. A ironia é que, seu primeiro grande desafio, era o de fabricar carrocerias para transportar pessoas e não carga.

Anúncio da Massari, com destaque para a produção dos “papa filas”. O crédito dessa imagem é do Adam Bazani (Ver referências)

Diante desse pequeno histórico, a Companhia Municipal de Transportes Coletivos (CMTC), decidiu que os “papa filas” seriam úteis para São Paulo e decidiram investir nesse modal. A companhia, logo de cara, comprou 50 unidades. Os “papa-filas” paulistanos receberam carrocerias de fabricantes como Caio, Cermava e Grassi.

Anúncio de uma “demonstração” dos papa-filas paulistanos em 13 de março de 1956

A estreia dos veículos foi em março de 1956, com destaque para a viagem inaugural sendo feita pelo então prefeito Lino de Matos. Nem é preciso dizer que as expectativas eram enormes para esses “caminhões – ônibus”, né? E no começo, pelo que pudemos apurar, viajar por eles era uma grande aventura.

Recorte do Correio Paulistano de março de 1956

Entretanto, com o tempo, o veículo se mostrou inviável para a cidade. Eles eram lentos, barulhentos e desconfortáveis. Os balanços eram constantes e era complicado para os motoristas os dirigirem e manobrarem. Algumas unidades de Papa-Fila rodaram pelo Brasil em transportes urbanos até os anos 1970.

Foto dos “papa-filas”, em São Paulo no dia 15 de março de 1956

Vale o registro que, após serem aposentados dos sistemas urbanos, diversas empresas os adotaram como meio de transporte para funcionários.

Segundo o blog “Diário do Transporte”, entre as empresas que utilizaram papa-filas para os funcionários estavam a CBT – Companhia Brasileira de Tratores, de São Carlos; Camargo Correa para construir a Usina Hidrelétrica de Tucuruí, no Pará; a Usiminas, em Ipatinga; e a fábrica de bicicletas e máquinas de costura Mercantil Suissa, de São Bernardo do Campo.

A maior contribuição do veículo, com certeza, foi a de ser um ponta pé importante para que os transportes de maior capacidade fossem discutidos no Brasil. Ele pode ser considerado o “pai” dos ônibus articulados, que só seriam produzidos a partir doa no de 1978.

Referências: https://diariodotransporte.com.br/2018/03/04/historia-massari-a-base-do-papa-fila/

Os recortes dos jornais são do Correio Paulistano, que podem ser acessados aqui: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx

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