Os jornais impressos, atualmente, vivem uma decadência de público, patrocínios e circulação, fato agravado, entre outras coisas, pela crise e o consumo de conteúdo via internet, celulares, tablets e computadores.

 Contudo, durante nossa história, grandes veículos impressos fizeram sucesso e informaram a população dos mais diversos acontecimentos. 

Com vários diários como: Folha de São Paulo, Diário de SP, Estadão e Valor Econômico, a memória do primeiro jornal da história da nossa cidade se perdeu, fato imperdoável para uma metrópole como SP. Chamado de Correio Paulistano, por seu fundador, Azevedo Marques, o periódico foi a primeira fonte de informação escrita diária da nossa cidade. Contudo, para conhecer o Correio, é preciso voltar no tempo e lembrar quem foi Joaquim Roberto de Azevedo Marques.

Azevedo Marques

O Homem

Nascido na cidade de Paranaguá, quando ainda não existia o Paraná, no dia 18 de agosto de 1824, Joaquim Roberto de Azevedo Marques sempre esteve ligado à imprensa, demonstrando mais que uma vontade, uma vocação para o ofício.

Contudo, engana-se quem pensa que sua vida foi fácil. Órfão de pai desde os 7 anos de idade, Marques teve uma infância pobre, difícil e, como não poderia deixar de ser, complicada. Aos 12 anos, entretanto, sua vida mudaria. Precisando aprender algum ofício para seguir depois de “velho”, Marques foi conduzido às oficinas de tipografia nas instalações do jornal “O Novo Farol Paulistano”, o único existente na cidade até então, onde trabalharia até os 17 anos de idade quando, por  vontade de seguir a carreira militar, cumpriria o serviço entre 1842 e 1845, junto ao 4º Batalhão de Fuzileiros, onde chegaria à patente de cadete.

O Novo Farol Paulistano
O Novo Farol Paulistano

Ao finalizar seu serviço e voltando às atividades comuns, Marques foi convidado pelo General Manoel da Fonseca Lima e Silva, então Presidente da Província de SP, para ser o diretor técnico do jornal “O Americano”, periódico estatal que ficou pouco tempo em circulação. O trabalho não era o ideal e Azevedo Marques mudaria para o “Ypiranga”, de filosofia mais liberal , mas que também não duraria muito tempo. O fechamento desse periódico, entretanto, mudaria completamente a história desse rapaz.

O Sonho E O Trabalho

Completamente desolado como fim do seu último emprego, Azevedo Marques viu uma oportunidade única que não poderia deixar passar. Seu primeiro emprego, na antiga Tipografia Imparcial, estava à venda e ali morava a consagração do seu sonho: ter o próprio jornal.

Juntando todas suas economias, todas as reservas e com uma coragem única dos desbravadores, Marques comprou a tipografia e decidiu mudar duas coisas: o nome e a periodicidade do jornal. A nomenclatura ficou a cargo de uma inspiração vinda de seu sogro, José Gomes Segurado, que tinha um jornaleco que circulava duas vezes por semana e era chamado de Correio Paulistano, fundado no dia 26 de junho de 1854. Sua segunda atitude foi pensar de maneira diferente da imprensa da época e fazer um jornal diário, novidade considerável para aquele século e, também, primeiro periódico com essa temática em São Paulo e o terceiro no Brasil.

Vale relembrar as primeiras palavras do jornal: “(Lançamos) no intuito de fundar uma tribuna livre, aberta a todas as aspirações e a todas as queixas, sem restrições na esfera do pensamento religioso ou partidário”.

Primeiro Correio Paulistano

Além de todo esse pioneirismo citado, o Correio Paulistano ainda foi: o primeiro jornal brasileiro a ser impresso em máquinas de aço (abandonando a mão-de-obra escrava que era capaz de produzir apenas 25 impressões por hora); o primeiro que montou oficinas a vapor; o primeiro que saiu às segundas-feiras; o primeiro a ser impresso em uma máquina rotativa e o primeiro a sair em grande formato. Também foi dele o pioneirismo em contratar fotógrafos próprios para suas matérias.

Apesar de conseguir colocar em prática seu sonho de ter um jornal, Marques tinha um problema considerável em mãos: não era um jornalista por formação. Para evitar problemas e críticas da sociedade paulistana, ele convidou o famoso jornalista Pedro Taques de Almeida Alvim, importante promotor público e deputado em várias legislaturas seguidas pela província de São Paulo. A chegada de Taques, aliada à experiência de Marques, trouxe a credibilidade necessária para colocar o jornal como um importante veículo de comunicação paulistano.

Com o jornal rodando e as pessoas gostando cada vez mais daquele veículo, o Correio Paulistano seria a principal voz de São Paulo até surgir o seu grande concorrente, a Província de S. Paulo, mais tarde O Estado de S. Paulo, no ano de 1875. O jornal permaneceria até um pequeno período de oscilação, quando circulava duas vezes por semana e, em 1858, voltaria a ser diário. Em 1861, alcançaria a tiragem recorde para a época: impressionantes 450 exemplares diários.

Algumas Curiosidades Sobre Azevedo Marques

Além de ex-militar e fundador do primeiro jornal diário do país, Marques também exerceu um cargo no governo provincial. Mesmo assim, foi um defensor das causas abolicionistas e republicanas, sendo um dos participantes da Convenção de Itu. Esses ideais, inclusive, lhe traziam diversos problemas, inclusive, algumas tentativas de boicote ao seu jornal. Contudo, todas essas tentativas foram rechaçadas devido à sua integridade e coragem de bater de frente com qualquer interferência externa. Diz a lenda que, em certa ocasião, ao ser pressionado a se demitir pelo Presidente da Província, graças às suas posições políticas e ideológicas, Azevedo teria dito que:

 “Senhor presidente, eu, como funcionário público, cumpro sempre os meus deveres burocráticos, servindo na administração pública o povo da minha província. Entretanto, sou um cidadão brasileiro, um homem no uso e gozo da liberdade política, de acordo com a Constituição do Império. Como cidadão, sou republicano e abolicionista. E o meu jornal é o agente da minha liberdade de pensar. O governo, que é o poder, pode, se quiser, demitir-me. Mas o que não pode é destruir o meu ideal democrático e mudar a feição do “Correio Paulistano”, de defender a democracia”

Esse tipo de atitude e fibra moral acabou ajudando a manter seu jornal em funcionamento até o dia 30 de novembro de 1889, quando foi afastado após uma briga com o redator-chefe, Dr. José de Luís Almeida Nogueira.  O jornal, por sua vez, circularia até 31 de julho de 1963, encerrando suas atividades com 33.882 edições veiculadas na cidade.

Após esse acontecimento, Azevedo Marques se concentraria apenas em seu cargo público, mesmo com a idade batendo à porta. Foi, inclusive, já trabalhando para a administração municipal, que sofreu um AVC que levaria sua vida dias depois. Esse ícone da nossa cidade se apagaria no dia 26 de setembro de 1892, aos 68 anos de idade. Azevedo Marques acabaria enterrado ao lado de sua amada esposa, Anna Victorina de Azevedo Marques, no Cemitério da Consolação.

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