Uma das maiores polêmicas da recente história da cidade de São Paulo tem a ver com um grande terreno de quase 25 mil m² que fica na Rua Augusta, mais precisamente entre a Caio Prado e a Marques de Paranaguá, no centro de São Paulo.

O impasse durava mais de 40 anos, até que, na semana passada, o Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo) aprovou  projeto das construtoras Cyrela e Setin para a construção de três prédios no terreno do parque Augusta.

Além de ser uma ilha de preservação ambiental, o Parque da Augusta também carrega consigo uma grande história da cidade de São Paulo. O terreno  já abrigou o colégio Des Oiseaux (Dos passáros), entre os anos de 1907 e 1967, onde se formaram Marta Suplicy e Ruth Cardoso. O belo prédio acabou sendo demolido em 1974. A escola que era conhecida por sua educação feminina francesa, era tocada pelas Cônegas de Santo Agostinho e tinha como seu público alvo as famílias de classe social mais elevadas.

Fachada do Colégio Des Oiseaux em 1966.
Fachada do Colégio Des Oiseaux em 1966.

Em 1918, durante a epidemia da gripe espanhola que assolou a cidade de São Paulo, o colégio serviu de hospital para crianças. Em 1970, as freiras decidiram deixar o centro de São Paulo e venderam uma parte do terreno para adiantar as obras da nova sede da escola, que construíram no bairro do Morumbi.

Nos fundos, na Rua Marquês de Paranaguá, funcionava a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Sedes Sapientiae, que também pertencia às Cônegas.

A ideia era que acontecesse a construção de um prédio residencial depois de o Sedes Sapientiae fosse transferido para a Universidade Católica (PUC), em Perdizes. E o prédio da escola, na rua Caio Prado, deveria ser alugado para a Prefeitura, que pretendia transferir alguns de seus departamentos para lá.

Um Jardim Público e a Demolição do Edifício do Colégio

A partir dos anos 70, começaram a aparecer diversas propostas para o reaproveitamento do espaço do Parque. No próprio ano de 1970, houve a proposta de demolição do colégio e para a construção de um jardim público.

Nessa situação, a Prefeitura declarou de utilidade pública toda a área verde existente ao redor do colégio. A proprietária do imóvel queria vendê-lo para uma construtora interessada na construção de prédios de apartamentos na área. Ela conseguiu reverter a situação jurídica do terreno na Câmara Municipal em dezembro de 1973.

Recorte do Estado de S. Paulo de 19 de dezembro de 1973
Recorte do Estado de S. Paulo de 19 de dezembro de 1973

No ano de 1974, com o crescimento dos prédios nas proximidades, o Des Oiseaux passou a ser um contraste urbano na área e as especulações das imobiliárias para a venda do terreno aumentaram ainda mais.

Diversos projetos foram apresentados para resolver o imapsse entre a Prefeitura e os moradores. Havia, inclusive, um projeto, que deveria ser encaminhado em fevereiro de 1975 à Prefeitura pela Sisal Engenharia, para a construção de um hotel com especificações técnicas para preservar a área verde existente na área. Entre os argumentos usados pela construtora, estava aquele que dizia que a área verde existente chegava a ser uma atração turística capaz de atrair mais hóspedes, o que justificaria grandes investimentos.

Anos depois, em 1977, a Teijin, outra construtora, anunciou que havia adquirido o terreno para construir o maior conjunto hoteleiro do hemisfério sul, com toda a área verde preservada. O projeto, porém, não saiu do papel.

O terreno pertence desde 1996, ao empresário e ex-banqueiro Armando Conde, da Acisa Incorporadora.

Em 2008, na gestão de Gilberto Kassab, a Prefeitura estudou a possibilidade de implantar, dentro do espaço verde, o Museu da Música Popular Brasileira, proposta do urbanista Lineu Passeri, da Universidade de São Paulo (USP), mas, como todas as outras propostas, não foi em frente.

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