A história do transporte de massa na cidade de São Paulo é um tema recorrente. Engana-se quem pensa que essa é uma preocupação nova para a nossa cidade. Um exemplo dessa antiga necessidade  é a constatação do engenheiro Norman Wilson, em 1925:

“Como único meio de aliviar o congestionamento no Triângulo, recomendamos que se dê início a um sistema subterrâneo e de linhas em  planos diferentes, para ser propriedade da cidade e pago por um pequeno incremento nas passagens, devendo a primeira secção ser uma estação subterrânea no Largo da Sé e uma linha em direção Leste”.

Com destaque para sua preocupação em já levar um transporte para a região leste da nossa cidade, local que ainda não era tão densamente povoado como o conhecemos hoje. Mas, mais do que indicar onde o transporte de massa poderia ser mais útil, Wilson ainda foi além e já deu uma solução interessante para a época:

“Os viadutos que se pretende construir, tanto o de São Francisco quanto o novo Viaduto do Chá, deveriam ter o taboleiro inferior para as linhas de bonde e então a volta na Praça do Patriarca poderia afinal ser subterrânea”.

 E suas projeções foram mais além:

“Não é impossível que daqui a 15 ou 20 anos se construa uma rua subterrânea ou ainda um passeio movediço debaixo da Rua São Bento para distribuir os passageiros que chgam nos pontos terminais subterrâneos nos Largos de São Francisco, Patriarca e São Bento”

Acredito que 12m da Avenida Anhangabaú (projetada) devem ser reservados para caminho do trânsito rápido, dois metros abaixo do nível da rua, para cruzamento em desnível das transversais”

É nesse momento que entra em cena a famosa The São Paulo Trainway, Light and Power Company ou, simplesmente, Light. A companhia canadense era especializada em operar bondes elétricos na cidade de São Paulo.

Enxergando a possibilidade de um bom negócio, a Light elaborou, no ano de 1927, o primeiro plano de um sistema integrado da história de São Paulo. Embora bastante modesto para os dias de hoje, a ideia foi recebida com assombro por parte das autoridades paulistanas.

Porém, logo em seguida há uma observação: dado que as vias arteriais da cidade eram exíguas e tortuosas e era inviável seu alargamento, a Light recomendava que existisse um sistema de transporte rápido elevado ou subterrâneo na região central antes que a população atingisse a marca de oitocentos mil habitantes. Estava desenhado o embrião do Metrô!

A proposta final da Light pouco difere do que disse Norman Wilson anos antes.

Haviam quatro diretrizes principais: Norte, seguindo em elevado a então Tramway da Cantareira; Leste, seguindo em nível a sul da Estrada de Ferro Central do Brasil, cortando a Mooca e o Belenzinho, seguindo depois a norte para alcançar a Penha; Sul, acompanhando em trincheira a “Avenida Anhangabaú”, passando pelo então projetado “Túnel Trianon”, sob a Avenida Paulista e seguindo até o Jardim América; e por fim Oeste, seguindo subterrâneo a Avenida São João até a Avenida Pacaembu, apenas citada como extensão futura, de baixa prioridade e a ser melhor definida futuramente.

Dos estudos preliminares participaram, além dos engenheiros da Light, os arquitetos do Escritório Ramos de Azevedo. Um esquema da “Estação República” chegou a ser apresentado como modelo, mas o plano foi rejeitado pela administração municipal, que em 1929 montou seu próprio projeto, adaptado às modificações viárias que viriam a ser postas a cabo.

Com o passar dos anos, a Light se desinteressou pelo transporte público e todo seu legado foi sendo deixado para trás.

4 Comments

  1. que falta de visão de nossos dirigentes. Se estes projetos tivessem vingado, o perfil de SP teria sido menos caótico e mais planejado. Já se falava em vias suspensas, muito antes de um Maluf projetar um Minhocão, ou seja, já naquela época, 1929, a cidade já não oferecia chances de alargamentos e assim a sugestão de vias elevadas.

  2. A construção de vias subterrâneas para o transporte de massa, no Plano da Light, seria o nosso futuro Metrô – com 50 anos de adiantamento.

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