Texto originalmente publicado em 21 de maio de 2015

No dia 25 de janeiro de 1961, a cidade ganhou “de presente” uma nova rodoviária. Esse empreendimento, que já não existe mais, foi chamado de Terminal Rodoviário Júlio Prestes, Rodoviária da Luz e Estação Rodoviária da Praça Júlio Prestes. A curiosidade? Era revestido de pastilhas coloridas, o que lhe concedia um visual único em uma capital que começava a ficar com “cinza para todo lado”.

A infraestrutura da rodoviária era capaz de atender 10 mil passageiros por dia e de abrigar 2.800 veículos. Além disso, o investimento para sua construção veio da iniciativa privada e soma era a de 250 milhões de cruzeiros. Importante dizer: para aquele aniversário de São Paulo, a rodoviária fora inaugurada de maneira parcial e contou com a presença do então prefeito, Adhemar de Barros.

Página Principal do jornal O Correio Paulistano de 25 de janeiro de 1961

Outra curiosidade do empreendimento é a de que ela foi erguida em 230 dias seguidos de trabalho em um terreno de 110 metros que ficava de frente para a Praça Júlio Prestes.  A estação tinha 10 plataformas de embarque de passageiros e uma de desembarque. No andar superior, restaurantes, bilheterias e cafés faziam parte da paisagem.

Com relação ao seu financiamento, havia a expectativa de que os empresários envolvidos na construção da rodoviária recuperassem seu dinheiro com propagandas, mais do que com o movimento de ônibus. O financiamento da rodoviária ficou a cargo de Carlos Caldeira Filho, Otavio Frias e Julio Brizzola.

O aluguel das plataformas, das bilheterias e dos espaços de convivência seriam boa parte da receita. Por outro lado, a prefeitura ficou de assinar contratos que garantiriam que cerca de 60% dos ônibus intermunicipais passassem por ali.

Contudo, a inauguração também trouxe problemas. Desde sua inauguração, surgiram protestos contra esse equipamento. Os moradores ao redor alegavam que esse tipo de negócio traria criminalidade, poluição e aumentaria o trânsito da região. O próprio Estadão, em editorial de inauguração do terminal, disse que:

“A estação rodoviária foi mal estudada quanto à sua localização. A praça Julio Prestes não apenas é pequena, como principalmente está rodeada de ruas estreitas e imprestáveis para oferecer ao tráfego um índice de vazão pelo menos razoável.”.

Editorial Estadão de 25 de janeiro de 1961

A rodoviária teve vida curta. Em 1977 iniciou-se o processo de desativação, com ramais passando para o Terminal Jabaquara.  Em 1982, com a inauguração do Terminal Rodoviário do Tietê, o local seria desativado permanentemente. As ruas estreitas, o aumento nos furtos na região e a mudança de moradores para a Barra Funda e Higienópolis acabaram implodindo o terminal Rodoviário da Luz.

Estadão de 29 de abril de 1982

Alguns anos depois do fim da rodoviária, começou a funcionar no edifício um shopping conhecido como Fashion Center Luz. O terreno de 19 mil metros quadrados foi desapropriado em 2007 para construção do Complexo Cultural da Luz.

Entretanto, em 2015, após decisão do Tribunal de Justiça de SP, foi declarado nulo o contrato entre o Governo do Estado e o escritório de arquitetura suíço Herzog & de Meuron, autor do projeto do complexo, devido à modalidade de contratação escolhida em 2007: dispensa de licitação, tida como injustificada.

ReferênciasO Correio Paulistano de 25 de janeiro de 1961: http://memoria.bn.br/DocReader/090972_11/5724

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