Um dos políticos mais famosos da história de São Paulo foi Jânio Quadros. Dono de tiques, jingles e falas memoráveis, ele marcou época por sua irreverência e forte atuação. Entretanto, um dos episódios mais famosos de sua vida não tem relação direta com ele. É mais um caso de televisão do que qualquer coisa. Estamos falando da morte de seu pai, Gabriel Quadros, na Mooca, pelo marido de sua amante.

A morte de Gabriel aconteceu em 1957, após uma briga com o feirante José Guerreiro. O estopim do acontecimento foi a discussão pela paternidade de gêmeos. Francisca Flores, amante de Gabriel e esposa de José, dizia que o deputado era o pai das crianças. José não aceitava. Jânio, que na época era governador, era o bode expiatório e chegou a ameaçar encerrar sua carreira diante do escândalo.

Vale dizer que os dois não tinham uma relação muito amistosa. Eleitos pelo Partido Trabalhista Nacional (PTN), Jânio era mais à esquerda, enquanto Gabriel era mais à direita e, desse embate, pérolas históricas foram geradas, como o caso de “jâniofobia”, termo cunhado por Gabriel para falar do contágio dos parlamentares.

Voltemos ao assunto desse post: o assassinato de Gabriel. O embrião do crime é datado de 1951, quando o médico se elegeu vereador pelo Partido Democrata Cristão (PDC). Um de seus fiéis cabos eleitorais era José Guerreiro, dono de uma barraca de limões.

A relação dos dois ia bem, mas Gabriel, que tinha fama de mulherengo, acabou se envolvendo com a mulher de Guerreiro, Francisca Flores. Segundo fontes, eles ainda tinham um caso quando Francisca engravidou de gêmeos.

Em um tempo em não havia DNA, as duas crianças, batizadas de Jaime e José Carlos, foram motivo de disputa entre o feirante e o ex-vereador – que agora cumpria mandato como deputado estadual pelo PTN. De temperamento forte Gabriel Quadros chegou às vias de fato com José Guerreiro em plena Praça da Sé, para decidir quem era o pai dos meninos. Francisca, conhecida como Nena, afirmava que os filhos eram do deputado.

Gabriel Quadros em luta corporal com o feirante José Guerreiro

Diante disso, Gabriel ofereceu todo suporte, inclusive sua residência (ele vivia um casamento de aparências com a mãe de Jânio), para que ela pudesse ter condições de viver com as crianças. Entretanto, segundo relatos da época, só de olhar para os dois gêmeos, ficava claro que os filhos eram de Guerreiro, mas diante de todo o escândalo e desgaste já passados, Gabriel decidiu levar o caso até o fim.

Guerreiro, por sua vez, queria ver os filhos e chegou a leva-los para sua casa em uma residência humilde na Mooca. Sabendo disso, Gabriel se armou, chamou três de seus capangas e foi atrás dos “filhos” e de Guerreiro.

O “resgate” aconteceria no dia 18 de maio de 1957. O deputado e seus homens arrombaram a porta do cômodo e avançaram na direção dos garotos. Ainda sob o efeito do sono, o feirante recebeu diversas pancadas, inclusive de cassetete, mas lutou contra os agressores como pôde, usando um pedaço de caibro que encontrou perto da cama.

Mesmo em minoria, conseguiu imobilizar o rival e arrancar dele a arma. No meio da confusão José Guerreiro disparou seis vezes contra Gabriel Quadros, que caiu morto. Não satisfeito, o feirante virou a arma na direção dos capangas do deputado, que, apavorados, correram em disparada. Na fuga, levaram os gêmeos.

Repercussão

Em pouco tempo, a rua foi tomada pela população. A polícia isolou a área, barrando o acesso de jornalistas, para efetuar o exame pericial. O corpo de Gabriel Quadros foi levado para o necrotério do Hospital Santa Catarina, onde o submeteram à autópsia. O laudo apontou como causa mortis “hemorragia interna traumática”.

A Secretaria de Segurança Pública determinou que a Polícia Rodoviária vigiasse as saídas de São Paulo, a fim de impedir que o carro de placas 2-99-66, usado pelos capangas de Gabriel Quadros para fugir com as crianças, deixasse a cidade.

Enquanto isso, vizinhos de Nena na avenida Lins de Vasconcelos afirmaram tê-la visto saindo às pressas de casa. Ela ainda estava de penhoar quando embarcou em um carro que a aguardava. Tamanha era sua pressa que, ao entrar no veículo, deixou para trás um dos sapatos.

Assim que tomou conhecimento do crime, Jânio Quadros encaminhou um documento para a Secretaria de Segurança determinando a abertura imediata de uma investigação rigorosa.

“O homicídio de que foi vítima o deputado Gabriel Quadros deve ser objeto de rápido inquérito, para apuração de responsabilidades. O autor (ou autores) não sofrerá qualquer coação ou violência, assegurando vossa excelência o governador, de forma absoluta, garantias e direitos da lei.”

O enterro ocorreu na tarde do próprio sábado, com a presença do governador, que foi ao cemitério do Araçá apesar de estar com a saúde “debilitada”. O presidente Juscelino Kubitschek não compareceu. Foi representado pelo presidente da Câmara dos Deputados Ulysses Guimarães.

Jânio no velório e enterro de seu pai, Gabriel Quadros

Conhecendo o pai, Jânio declarou à imprensa durante o enterro que José Guerreiro agira em legítima defesa da honra. O feirante foi indiciado, ficou preso preventivamente durante alguns dias, respondeu a processo e ganhou a liberdade em 1959.

Para conter o escândalo, o governador chegou a declarar sua carreira política encerrada – mas, ao contrário, em dezembro daquele mesmo ano registrou sua candidatura a deputado federal pelo PTB do Paraná, e, depois de eleito, passou a acumular os dois cargos. Os gêmeos reapareceram com a mãe, por quem foram criados. Ela se separaria do feirante anos depois.

Referênciahttps://glamurama.uol.com.br/direto-da-revista-j-p-o-assassinato-do-pai-de-janio-quadros/ 

7 Comments

  1. Janio nunca foi de direita e muito menos de esquerda. Janio era o tipico “autocrata” acreditava nele mesmo com a melhor coisa do mundo, mas pelo menos, foi um bom prefeito

  2. BOA NOITE, COMO ACONTECEU O ASSASSINATO DE GABRIEL QUADROS, DEVERIAM REALMENTE IR A FUNDO, E FALAR SOBRE QUEM ERA REALMENTE O GABRIEL QUADROS, POIS QUE DEU PARA ENTENDER, ELE ERA UM SANTO, POIS ELE SEDUZIU….

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