Uma das grandes mulheres que passou pela cidade de São Paulo foi Pérola Byington. Famosa por dedicar sua vida à assistência social, tanto no Brasil quanto na Cruz Vermelha dos Estados Unidos, ela é considerada por muitos historiadores uma mulher a frente do seu tempo.

Nascida no dia 3 de dezembro de 1879, na cidade de Santa Bárbara do Oeste, na Fazenda Barrocão, Pérola era filha de Mary Ellis McIntyre e Roberto D. McIntyre.  Sua família americana, que saiu dos EUA após a Guerra Civil, se estabeleceu no interior do estado para constituir uma nova vida. Aqui no Brasil o casal teve três filhos: Pearl (que mais tarde adotaria o nome de Pérola), Mary e Lillian.

Seus estudos se desenvolveriam no interior do estado e, em 1901, Pérola se casaria com um dos pioneiros da indústria nacional: Alberto Jackson Byington, com quem teve dois filhos, Alberto e Elizabeth. No ano de 1912, visando educar os filhos, os dois viajaram aos Estados Unidos, mas graças à Primeira Guerra Mundial, não puderam voltar ao Brasil. Foi nesse momento de sua vida que Pérola passou a colaborar com a Cruz Vermelha americana, auxiliando na captação de recursos.

Após os desfechos da guerra, a família Byington voltou ao país na década de 20 e deu de cara com uma cidade diferente. A economia estava a todo vapor e o desenvolvimento social também passava por mudanças.  Em um primeiro momento, Pérola decidiu trabalhar na Cruz Vermelha Brasileira ao lado de sua amiga Maria Renotte.

Apesar do sucesso nessa iniciativa, Pérola se preocupava muito com as taxas de mortalidade infantil e, em 1930, foi fundada a Cruzada Pró-Infância. A Cruzada nasceu com o ideal de ampliar os esforços feitos em prol da saúde das crianças e das mulheres gestantes.

O projeto teve ampla aceitação da sociedade e acabou crescendo, sendo separado em vários segmentos de atividade. Byington, considerada a grande líder da iniciativa, criou serviços de clínica geral, higiene infantil, pré-natal e chegou a organizar parques, creches, bibliotecas infantis e um lactário.

De maneira sempre muito polida e educada, Pérola procurava conversar com as autoridades da época para a criação e execução de programas que focassem nos direitos da mulher, tema que até então era “tabu” na sociedade brasileira. Essa valorosa mulher ainda foi uma das primeiras a levantar a bandeira das causas de morte no parto e pós-parto, com o objetivo de melhorar as condições e a qualidade do pré-natal.

Vale lembrar, também, outro ponto grande preocupação por parte de Byington: o abrigo para mães solteiras. Como é de se imaginar, o conservadorismo imperava na época e não era raro encontrar mães solteiras ou grávidas sem o apoio da família sem condições de ter um tratamento digno durante a gestação. Através de uma casa, criada por sua iniciativa, essas pessoas podiam buscar ajuda em uma iniciativa pioneira que desafiava as “regras” da época.

Pérola compreendia ser a maternidade função social do estado e defendia a assistência à mãe solteira como uma forma de enfrentamento dos problemas sociais. Era combativa defensora da educação sexual.

Colaborou, ainda, para ajudar a eleger Carlota Pereira de Queiroz, médica paulistana e primeira mulher eleita deputada federal no Brasil, na Constituinte de 1934. Em 1947 recebeu o título de Membro Honorário da Sociedade Brasileira de Pediatria. Até a ocasião, a única não-pediatra, a merecer tamanha distinção.

Surge o Hospital

No ano de 1959, com seu nome já consolidado e respeitado pelo Brasil, Byington inaugura o Hospital Infantil e Maternidade da Cruzada Pró-Infância, onde além dos atendimentos ofertados à população, eram oferecidos cursos de formação para quem quisesse seguir a carreira acadêmica da área.

Para levar essa iniciativa adiante, a matriarca do projeto não poupou esforços e mobilizou todas as pessoas que pudessem ajudar. Os meios de comunicação foram um parceiro poderoso, afinal, conseguiu divulgar os projetos, cursos e convocou a população a ajudar na arrecadação de fundos para manter a qualidade e excelência do hospital.

Seu esforço deu resultado e ela conseguiu a ajuda de profissionais bastante famosos que faziam os atendimentos em seu hospital de maneira voluntária. Laboratórios e farmácias também contribuíam para que a iniciativa desse certo.

Essa grande mulher foi a diretora-geral da Cruzada até o ano de sua morte, em 1963, e seu nome sempre será lembrado pela história da assistência à infância e a maternidade no país. Sua iniciativa, afinal, permanece viva cuidando de creches, abrigos e beneficiando milhares de crianças. O antigo hospital, outrora conhecido como Cruzada, agora é o Hospital Pérola Byington que é gerenciado pela Secretaria De Estado da Saúde.

Uma de suas frases mais marcantes fica por conta do questionamento que era feito a ela sobre como conseguia cuidar de tantas coisas ao mesmo tempo. Sua resposta, apesar de simples, era suficiente: “… isso não é trabalho, isso é vida…”.

6 Comments

  1. Nasci nesse hsptl em 1962. Minha mães falecida agora tinha uma deficiência e foi feito laqueadura na época por motivo de segurança pra ela conforme me contava minha vó.gostaria muito de saber porque essa medida na época era adotada em mães solteiras sem condições. Mas foi o melhor que fizeram por ela.

  2. Sou bisneta de Pérola Byington e fiquei orgulhosa com o texto. Esse ano é aniversário de 150 anos do seu nascimento e temos que lembrar dessa mulher fantástica e corajosa, precursora das causas feministas no Brasil.

    1. Que legal!! Deve ter muito orgulho por ser bisneta de uma mulher tão batalhadora e a frente do seu tempo! Vc conhece a cidade em que ela nasceu? Santa Bárbara d’Oeste é lindinha..fica grudada em Americana, q tem este nome por conta dos imigrantes, com os seus tataravos. Vá conhecer a região.

    2. Uma biografia inspiradora. Uma família que traz um legado imensurável, desde a sua trisavó Dna. Mary Ellis McIntaryre, mãe de Dna. Pérola Byington. Mulheres que dedicaram-se ao progresso, através da Educação e da Saúde. Tive a grata oportunidade de ler o Livro Um Gesto que Salva da Dna. Maria Elisa Botelho Byington. Uma preciosidade. Que exemplos como esse se repliquem para o futuro e sejam repassados para as próximas gerações.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *