A história de uma das regiões mais simpáticas da cidade de São Paulo, o bairro do Belém, começa no século XIX, mais especificamente no ano de 1880.  Na ocasião, devido à sua altitude, arvoredo e ar puro, o local era uma parada certa para pessoas com problemas respiratórios e, com o tempo, se tornou um ponto de grandes chácaras da elite paulistana.

O nome Belém é oriundo da devoção dos primeiros moradores a São José do Belém e, em julho de 1897, com recursos arrecadados entre os moradores, foi erguida uma capela em homenagem com seu nome. Dois anos depois, no apagar das luzes do século XIX, o Belém já era conhecido como um distrito de descanso e paz.

Com o passar dos anos, a região começou a ser habitada por imigrantes de todas as partes do mundo e, pouco a pouco, pomares, plantações e chácaras foram sumindo para dar lugar ao perfil mais urbano que conhecemos hoje. Diversas intervenções acabaram favorecendo essa mudança, como: a construção de uma linha de trem e a passagem do bonde 24, transporte voltado para a locomoção dos operários e com preços mais baratos.

Vale uma curiosidade que, apesar do nome do bairro ser inicialmente Belenzinho, este não tinha o tamanho necessário para as placas dos bondes e, assim, foi “abreviado” como Belém, nomenclatura que caiu no gosto da população.

Mapa do Belenzinho em 1916.
Mapa do Belenzinho em 1916.

Era comum que os operários morassem perto das fábricas, que começaram a chegar  à região no ano de 1910. No início esses empreendimentos eram compostos por vidrarias e tecelagens e, assim, a população do bairro dobrou devido à oferta de emprego.  Os empresários mais ricos, por sua vez, erguiam seus palácios na Avenida Celso Garcia que era considerado o grande ponto “rico” da região.

A Histórica Vila Operária Maria Zélia E Um Pouco Mais de História

Apesar desse episódio da história do Belém merecer um registro exclusivo, não podemos deixar de citar a histórica decisão tomada pelo grande industrial Jorge Street. No ano de 1911, o dono da Companhia Nacional de Tecidos de Juta tentou melhorar e, ao mesmo tempo, vigiar seus funcionários ao comprar um grande terreno que ia da Celso Garcia ao Tietê para erguer uma grande vila operária, destinada aos seus funcionários.

As instalações eram consideradas modelo para habitação dos operários e, segundo relatos da época, havia filas de trabalhadores que queriam uma vaga no local.  O projeto chegou a fazer sucesso, mas acabou desparecendo quando a empresa de Street faliu em 1917. Anos depois, entre os anos de 1936 e 1937, o local acabou sendo utilizado pelo Estado Novo como presídio para presos políticos.

Vila Maria Zélia sem data.
Vila Maria Zélia sem data.

Outro importante industrial brasileiro chegou a ter negócios na região. Estamos falando de um contemporâneo de Street, o famoso conde Matarazzo que, em 1911, inaugurou a Tecelagem e Estamparia do Belenzinho. Em 1931 o Conde adquiriu a Tecelagem Santa Celina (também no bairro) e em 1936 implantou a Fábrica de Papel e Papelão no Belenzinho.

Conheça Um Pouco Mais Da História do Conde Matarazzo

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Em 1924, quando estourou um violento conflito na cidade de São Paulo, o Belenzinho sofreu bastante. Devido a grande quantidade de fábricas da região, o local foi alvo de bombardeios incessantes o que minou grande parte da estrutura do bairro. Aos poucos as indústrias foram se mudando de lugar e os antigos galpões viraram empreendimentos imobiliários, o que tirou parte da característica do bairro.

A vila nos anos 20.
A vila nos anos 20.

Vale dizer que alguns pontos foram preservados, como o Moinho Santista, fábrica que chegou a empregar 4.000 pessoas, que se tornou o Sesc Belenzinho. Em 1957, com a abertura da Radial Leste, o bairro voltou a ser um ponto de interesse para a população e se “reurbanizou”.

Uma outra grande curiosidade fica por conta do escritor paulista Monteiro Lobato que morou, no começo do século 20, ,a região. Sua casa – na Rua 21 de Abril – era conhecida como o Minarete e costumava receber um grande número de escritores, poetas e intelectuais da capital. As madrugadas da grande casa amarela – o Minarete – eram famosas na capital pela grande quantidade de boêmios e artistas que nela transitavam.

Como recordação final, fica a passagem do último bonde da região, fato que aconteceu em 1960. Além disso, fica a saudade da época em que era possível pescar lambaris no Tietê, atividade que era um dos hobbys dos moradores da época.

9 Comments

    1. Sim. Eram vários galpões enormes e em 1983 já estavam em decadência, e logo, a serem derrubados. Até me lembro que tinha um cliente instalado num galpão da Rua Dr. Foom
      Nessa época com a chegada do metrô , ajudou a reurbanizaçao em todo bairro do Belenzinho.

  1. O bairro está sendo destruído pela administração Hadad. Uma favelização na rua Cajuru e entorno, ele está deslocando a cracolandia para cá. Nós belenenses estamos abandonados, nossas portas invadidas.

  2. O Livro Belenzinho 1910 de Jacob Penteado relata muito desta época . Os costume dos moradores italianos,. Minha familia de italianos chegou no Belenzinho vindo de Ribeirão Preto em 1900. Minha avó tinha açougue na Celso Garcia altura do nº 1200 .Mario

  3. A Rua Cachoeira, hoje Pari/Canindé, pertencia ao bairro do Belem , por volta de 1916/1920? Alguém sabe onde posso encontrar um mapa das ruas daquela época?

  4. Boa Tarde !
    Gostaria de saber se é possível por algum meio localizarmos uma casa no Rua São Leopoldo onde minha avó morou e tinha uma pensão…dei uma olhada nas casa demolidas mas a da minha avó não consta embora seja um sobrado nos moldes do início do século xx . grata, Stefania Ribas

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