Quem anda pelo Ipiranga, como eu faço de maneira recorrente, com certeza já passou pela Rua Bom Pastor. Via bastante longa e cheia de comércios interessantes, ela é uma importante referência na região. No texto de hoje trarei uma curiosidade que descobri recentemente, fazendo algumas pesquisas aqui para o site. Com certeza você já parou para pensar “de onde veio o nome Bom Pastor”? Quando jogado no dicionário de ruas de São Paulo, a justificativa que aparece é a seguinte: “Essa denominação lembra a existência no local, de um asilo para menores com esse nome”. Essa é apenas parte da história, por assim dizer.

Navegando pelo site “São Paulo Minha Cidade”, é possível encontrar uma história que, na verdade, é quase uma lenda urbana de SP. Ela é mais ou menos assim: quando o bairro ainda era parcialmente habitado, as ruas ainda não estavam traçadas e os caminhos cheios de buracos, um garoto desamparado e fraco caiu numa depressão do terreno e ficou estendido sobre as folhagens enquanto caminhava. Quando mal conseguiu abrir os olhos, surgiu ali a figura de Jesus Cristo, que o ergueu e lhe disse que era um Pastor de Almas e, em nome do Pai, cuidava das crianças. Iria pedir por ele, para que os homens erguessem um asilo nas imediações, destinado às crianças abandonadas.

A história “verdadeira”, digamos assim, foi extremamente bem dissecada em um documento apresentando no XXII Encontro Estadual de História da ANPUH-SP Santos, em 2014. A explicação histórica fica por conta da construção, de fato, de uma instituição para meninas órfãs, pobres e de má conduta. O Asilo Bom Pastor, como era chamado, teve sua construção iniciada em 1893, no Ipiranga. O terreno dessa entidade foi comprado pelo padre português José Antonio de Almeida e Silva, por dois contos e quinhentos mil reis.

As obras do edifício foram iniciadas no dia 6 de maio de 1893, com a ilustre presença do presidente da instituição, o conselheiro Joaquim Pedro Villaça e de toda a diretoria. No dia 28 de julho de 1893, o Asilo do Bom Pastor se tornou a primeira instituição assistencial do bairro do Ipiranga que, na época, fazia parte da freguesia da Sé. O terreno tinha cinquenta e três metros e meio de rente e noventa e quatro metros de fundo, onde passava o Rio Tamanduateí.

Uma pequena curiosidade histórica que vale ser mencionada, fica por conta de um trecho, encontrado no jornal “O Correio Paulistano”, de maio ou abril de 1893, onde se destaca o seguinte trecho (adaptado para a atual norma ortográfica) : “Resolveu mais para atender ao pedido de muitas pessoas e aos interesses da empresa criar uma associação de duas a três mil pessoas honestas de um e outro sexo que terá por fim, mediante uma pequena esmola anual, nunca superior a 10$000, concorrer para o sustento, educação e vestuário das asiladas, que depois deum preparo de quatro annos mais ou menos, não tomando estado, serão entregues aos parentes ou a famílias honestas para o serviço doméstico”.

Registro da rua Bom Pastor em 1957

Em 20 de março de 1897, três freiras da Congregação da Nossa Senhora de Caridade do Bom Pastor de Angers chegaram a São Paulo, a convite do padre José Antonio de Almeida e Silva, para administrar o asilo. Essas freiras eram especializadas na administração de instituições pedagógicas como orfanatos, escolas, internatos, organizações prisionais etc., desde a fundação da Ordem, em 1829, na França. As irmãs do Bom Pastor, como chamadas, deveriam inculcar educação e disciplina nas internadas, sendo que a sua administração deveria prezar pela assepsia, arrumação, domesticidade e ordem.

Essa história, cheia de curiosidades e conquistas, acabaria sendo encerrada em 1995, quando o Asilo Bom Pastor foi adquirido pela Gafisa e, em seu lugar, surgiram dois prédios de 15 andares, com vista privilegiada para o Parque da Independência.

Referências: https://dicionarioderuas.prefeitura.sp.gov.br/  
http://www.saopaulominhacidade.com.br/historia/ver/9513/Bairro%2Bdo%2BIpiranga%2Be%2Bsuas%2Bhistorias%2BII
http://www.encontro2014.sp.anpuh.org/resources/anais/29/1412976806_ARQUIVO_XXIIENCONTROESTADUALDEHISTORIAANPUHLUGARESDEMEMORIASSANDRAREGINACOLUCCI.pdf

http://memoria.bn.br/DocReader/090972_05/4147 

3 Comments

  1. NA verdade, os edifícios não foram construídos. A área foi desapropriadas pela prefeitura para ser incorporada ao parque da independência, já alguns anos, mas não foi feita muita coisa.

  2. Fiz um trabalho na área com o levantamento da vegetação no local para meu mestrado. A área em questão foi desapropriada com e com intensão de construção de um condomínio, o fato é que dentro da área mencionada existe uma pequena igreja construída com materiais oriundos de igrejas ortodoxas e por esse motivo a obra foi embargada pelo ministério público. No final dessa disputa judicial, a área agora foi tombada e anexada ao parque da independência para sua transformação e área de parque. Existe um projeto pwea sua reforma em andamento mas até agora nada tem sido feito o que é uma pena para os paulistas.

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