A estrutura de guerra: como SP se armou para a revolução de 32

Tive a oportunidade de escrever bons textos sobre a Revolução de 1932. Alguns, mais emocionados, confesso, terão seu tom ajustado com o tempo. Faz parte da evolução e conscientização do jornalista por trás das palavras.

No resgate de hoje, feito a partir de um excelente livro que adquiri no sebo, vamos recordar e tentar dar rosto e corpo às ideias ajudaram o exército de São Paulo a se manter na luta contra o resto do Brasil.  

Claro que foi por pouco tempo, ninguém discute o fato histórico, mas alguns esforços e nomes merecem ser relembrados pelo que fizeram. Vamos à história que resgatamos!

Um dia após o início da revolução, ou seja, no dia 10 de julho, as autoridades que estavam à frente de São Paulo se deram conta de que não tinham um recurso fundamental para sustentar uma guerra: armas e munição.

E quando digo sem munição, é sem munição mesmo: o estado contava com armas velhas, ultrapassadas e menos de 100 tiros por soldado. Claro que, nessa situação, já no final de julho, as trincheiras estavam carentes desse recurso.

A solução encontrada pelo governo e pelos líderes militares foi uma só: no dia 1º de agosto foi requisitada a presença de Gaspar Ricardo Júnior, diretor da Estrada de Ferro Sorocabana, para que ele pensasse em como resolver o problema.

Logo de cara, ao inventariar o que tinha em mãos, concluiu que a única fábrica de munição que possuía era a Fábrica Nacional de Munições, de propriedade do Conde Matarazzo e que ficava em São Bernardo do Campo.  

Outro importante personagem, o professor da Escola Politécnica Roberto Mange, foi chamado ao local, no mesmo dia 1º, para analisar como a fábrica trabalhava e o que poderia ser feito para ajudar.

Ao mesmo tempo, centenas de pessoas se alistavam na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, buscando se voluntariar para ajudar na tarefa. No dia 2 de agosto, diante da necessidade, foi criado o Departamento Central de Munições, o DCM. O objetivo era o de produzir 400.000 cartuchos por dia para alimentar os fuzis Mauser da resistência paulista.

Criação do DCM publicado no Correio Paulistano

O DCM decidiu mover a fábrica de São Bernardo do Campo para a capital, buscando deixar seu tesouro longe dos aviões de Getúlio, que dominavam o céu na época. E essas pessoas precisavam trabalhar rápido. Em todo o Estado, para 27 mil fuzis, não havia mais de 1.5 milhão de cartuchos, ou seja, pouco mais de 55 tiros por fuzil.

Não encontrei relatos confiáveis sobre a atuação do DCM, mas o que pude apurar foi que o departamento conseguiu construir outra máquina para fabricar cartuchos e que, no último dia oficial da guerra, 30 de setembro, a produção de cartuchos foi de 240 mil balas, sendo que 80 mil foram fabricadas com materiais adaptados.

Vale dizer que as adaptações de máquinas e materiais foi feita com a mente de homens como Nadir Figueiredo e Heitor Bertucia, além de Ribeiro Costa e Luís Cintra do Prado.

Metralhadora antiaérea usada no campo de Lorena

O problema da pólvora

Outro problema, além dos cartuchos era a pólvora. Fabricada em Piquete, no estado de São Paulo, o plano era trazer essa fabricação para Mauá. Não encontrei resultados confiáveis sobre se isso deu certo ou não.

Para finalizar esse texto, uma linda curiosidade: o exército de São Paulo se recusou a usar cobre em seus cartuchos, mesmo na falta de níquel e zinco. A recusa ficou por conta da possibilidade do material ser venenoso ao corpo humano. Uma frase do livro Revolução de 32, de Hernani Donato, diz tudo sobre essa escolha: “pensava-se no fabricar de balas de fuzil, na saúde do adversário do momento, irmão brasileiro de véspera e, certamente, de amanhã”.

Artilheiros paulistas carregam morteiros