Uma História Escondida de São Paulo – Penha A Capital Do Estado

O bairro da Penha é um dos mais tradicionais e antigos da cidade de São Paulo. O dia 8 de setembro desse ano marcou seu aniversário de 342 anos de vida. Mas por que ele é tão importante assim?

A Penha é um dos poucos lugares da cidade que mostra a transformação social, política e econômica que São Paulo passou em toda sua história. A região viveu de tudo um pouco: da subsistência agrícola à industrialização. O lugar sempre foi isolado e tinha, como poucos, um aspecto mais independente da metrópole, o que o tornou um bairro logo que a cidade de São Paulo começou a crescer. A Penha conta, hoje, com aproximadamente 470 mil habitantes e, no começo de sua história, foi concebida como uma pequena cidade, já que possuía uma localização geográfica vantajosa em uma colina cercada de rios.

Igreja da Penha no final da década de 20.

Voltada para a área econômica devido ao Rio Tietê e seus afluentes Aricanduva e Tiquatira, era um local fluvial que atendia as necessidades  agrícolas na metade do século XX. Hoje prevalece o pequeno comércio, embora tenha lojas de maior porte, além de fábricas e indústrias.

A margem do Rio Tietê era repleta de olarias, portos de areia, estaleiros e muitas chácaras de frutas, verduras e flores que abasteciam o mercado do Arouche. Na região do Cangaíba havia uma estação de areia, de onde saíam barcos com pedras e tijolos. Além disso, os penhenses pescavam e aproveitavam os momentos de lazer, desenvolvendo uma cultura própria.

Geograficamente falando, a Penha era a primeira parada para quem saía de São Paulo, e a última da volta. Os penhenses informavam sobre o clima de São Paulo e Santos, já que da colina podia-se avistar o planalto do Piratininga. Um marco muito importante para o local foi a chegada do bonde elétrico a São Paulo, em 1900, trazido por canadenses e, que após um ano,  já estava em circulação pelo bairro.

A linha 6 tinha duas paradas oficiais em todo percurso, mas como os passageiros paravam no meio do caminho, a viagem se tornava demorada. O ponto final ficava no Lgo. 8 de Setembro, e sua extinção aconteceu em 1966. Dois anos depois, o bonde paulistano fazia sua última viagem, causando tristeza e luto na cidade.

A Penha Como Capital do Estado

A maior curiosidade da história do bairro é que, em uma época de nossa história, a Penha foi a capital do estado de São Paulo. Durante a Revolução de 24, o exército federal sitiou São Paulo, e sua base era na região da Penha.

Barricada da Revolta de 1924, em São Paulo

O General Sócrates, chefe do comando, e o governador da cidade, Carlos Campos, que, na época, era chamado de presidente da província, abandonou o palácio e foi para o bairro, tornando-o capital do Estado pelo período de dois meses. O momento guarda várias histórias de guerra. Uma delas é a de que um trem, cheio de dinamites e bombas, seguia na direção da cercania, quando um funcionário soube do carregamento e conseguiu desviar o trajeto dos trilhos, descarrilando-o e fazendo com que a explosão ocorresse longe do alvo.

Um Bairro Sem Carros

A configuração urbana da Penha é de uma cidade pequena e antiga.

Esse bairro não é composto por quarteirões simetricamente corretos e  possui várias subidas e descidas, ruas tortas e estreitas. A Penha tem a vantagem de que qualquer ponto do bairro é perto, sendo que é uma tradição da região sempre ir a pé para os lugares, deixando os automóveis de lado.

O distrito se torna uma cidade turística, no qual a pessoa esquece o carro, e prefere conhecer os lugares a pé. Os penhenses não abrem mão disso; a maioria alega que não conseguiria viver em outros locais se a vida fosse em função de uma máquina.

Em relação ao entretenimento, o Cine Penha Theatro, foi o primeiro do bairro, fundado em 1926. No ano de 1956, ganhou uma reforma e seu nome mudou para Penha Príncipe, com entrada na Av. Penha de França, onde hoje está um prédio comercial. Havia platéia, camarotes e balcão; às quintas-feiras passavam os filmes do Zorro, Super Homem e Flash Gordon.

Cine Penha Theatro, na Avenida Penha de França, em 1927

O Memorial Penha de França,  surgiu por motivos de preservação do patrimônio, para que as pessoas e moradores conhecessem sua história.  Acho que depois de tudo isso, vale uma visita para conhecer esse tradicional recanto paulistano, não?