O segundo prefeito da cidade de São Paulo foi um nobre pernambucano nascido no dia 11 de dezembro de 1863 em Recife. Raymundo Duprat, mais tarde Barão de Duprat, fez o tradicional trajeto do nordestino rumo ao sudeste.

Viveu durante pouco tempo no Rio de Janeiro, fez escala em Santos e acabou em São Paulo, onde iniciou sua vida de comerciante. No ano de 1882, então com 19 anos, Raymundo trabalhou como ator em algumas peças do teatro São José, em São Paulo e no Santa Izabel, no Rio de Janeiro.

Apesar dessas suas aventuras, Duprat se estabeleceu em São Paulo na última década do século XIX, como contador da Companhia Industrial de São Paulo e membro da diretoria da Associação Comercial. No ano de 1902, adquiriu uma tipografia e transformou-a na conhecida Tipografia e Papelaria Duprat & Cia., em sociedade com seu irmão.

Com o comércio e uma ferramenta de imprensa ao seu alcance, Duprat aproveitou a oportunidade e começou a investir na sua carreira política.

O esforço deu resultado e ele foi eleito para a Câmara em 1905, 1908 e 1911. Nesse período, no ano de 1910, foi decretada a Lei Estadual n° 1.211, que restabeleceu as eleições indiretas e diminuiu o mandato de prefeito para apenas um ano.

Os vereadores elegeram Duprat, em 1911, — conhecido como “Barão de Duprat”, graças ao título de nobreza que o Papa Pio X resolveu, distribuir a alguns industriais brasileiros, em 1907 — e o reelegeram sucessivamente até janeiro de 1914.

A personalidade de Duprat era aquela figura de gabinete. Um político simpático, mas muito formal e de contato raro com a população. Ele era o executivo que estava entre o bancário e o banqueiro. Não era protagonista, mas geralmente era o fiel da balança. Graças a essa atitude conciliadora, tinha grande prestígio comercial e político.

Na prefeitura, o que se diz comumente, é que fez um excelente trabalho levando adiante os projetos deixados em andamento por Antônio Prado, entre eles o viaduto Santa Ifigênia.

Mas teria sido responsável, nos três anos de seu mandato, pelo Jardim da Praça Buenos Aires e início da construção do Parque da Avenida Paulista, do Parque do Anhangabaú, alargamento da rua Líbero Badaró e abertura da grande avenida São João.

Partidário de Albuquerque Lins, que apoiou sua candidatura, Duprat deve ter pisado em calos poderosos dentro de seu próprio partido, o PRP (o único que elegia ou deixava de eleger prefeitos, naquela época) porque setores da imprensa o chicoteavam de forma inclemente: “Barão Duprat é um nome execrado e abominado por todo paulista de bom senso, pois S. Excia. Até hoje nada fez em favor do município, como prefeito”, dizia uma revistinha chamada O Pirralho, pouco antes de Duprat deixar a prefeitura.

Barão Raymundo Duprat

Duprat é chamado de “inepto administrador, míope prefeito e boçal barão papalino”, além de “indivíduo que a vesga politicagem de 1910 transformou, da noite para o dia, de caixeiro de papelaria em prefeito municipal”.

Só que O Pirralho deixou antever sua inclinação política, pois revela-se satisfeito com a ascensão de Washington Luís à prefeitura, sucedendo Duprat: “Felizmente, será eleito Washington Luís. É desnecessário que repitamos que o ilustre remodelador da Força Pública será o mesmo trabalhador incansável, reformando e embelezando a nossa capital, desgraçadamente vítima das garras aduncas dos cavadores ignóbeis, membros da caterva do Sr. Duprat”.

Maldade desse grupo que fazia política com o fígado, e injustiça flagrante com o esforçado e distinto Duprat. E talvez até ateste a seu favor que naquela época de tanto apadrinhamento, ele tenha sido prefeito por apenas três anos, quando Pires do Rio ficou quatro, os outros ficaram seis e Prado ficou doze.

Após sua saída da prefeitura, Duprat foi eleito vereador novamente em 1914, 1917, 1920 e 1923. Foi presidente da Câmara Municipal de 1914 a 1924. Para sua honra e de seus filhos, embora fosse um barão e tivesse galgado os degraus do sucesso político e comercial, ele morreu pobre, em 17 de maio de 1926. Atualmente, Duprat empresta seu nome a uma ruma da região da 25 de março.

Disse Gilberto Vidigal, na ocasião, em nome da União de Funcionários Municipais de São Paulo, que uma coroa de flores não era suficiente para “materializar a gratidão e o sentimento de imperecível lembrança que vivem no íntimo de nós, os que convivemos com ele e dele recebemos provas de inconfundível bondade. Há de perdurar, por largo tempo, em meio de nós, a imagem do Barão Raymundo Duprat, cujo espírito, assaz leve, vencerá glorioso as caminhadas etéreas do além, já que foi, na terra, com pertinaz constância, o modelo de quem ambicionou a felicidade alheia, procurando o bem, e realizando, como melhor podia, a Justiça e a Bondade”. (Correio Paulistano, 19/5/26).

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