O principal sistema de abastecimento de água da cidade de São Paulo, o Cantareira, é mais antigo do que muitos de nós imaginamos.

Para começar, o nome “Cantareira” tem uma origem bastante diferente. A região onde hoje fica o sistema de abastecimento era um local pouco habitado até o final do século XIX.

O lugar era recheado de fazendas e chácaras e os tropeiros que faziam o comércio entre São Paulo e várias outras regiões do Brasil, entre os séculos XVI e XVII, passaram a chamar o logradouro de Cantareira por causa da grande quantidade de nascentes de água que ali existiam.

Na época, era comum armazenar a água em jarros chamados cântaros e, chamava-se Cantareira o local onde esses cântaros eram guardados. Surgia assim o nome que passaria por séculos e se tornaria o mais conhecidos quando o assunto é abastecimento de água em São Paulo.

O Começo do Sistema Cantareira

No ano de 1863, o primeiro passo para a concepção do Sistema Cantareira foi tomado: o governo da Província indicou o engenheiro inglês James Brunless para estudar e apresentar um plano de abastecimento de água e coleta de esgotos

Brunless, sabendo que a tarefa que fora designada era complexa, chamou dois outros engenheiros: Hooper e Daniel Makinson Fox, para levantar a planta topográfica da cidade e ter uma ideia de onde começar o plano.

No ano seguinte, em 1864, já foi apresentado um relatório que indicava a adução das águas da Serra da Cantareira para o abastecimento da cidade. Contudo, graças ao alto custo do projeto, ele não foi executado e acabou deixado de lado.

Anos mais tarde, em 1875, o governo consolidou um contrato com vários concessionários: coronel Antonio Proost Rodovalho, major Benedito Antonio da Silva e Daniel Makinson Fox, para implantar um sistema de abastecimento de água na Capital, colocando em prática o projeto elaborado em 1863.

Dois anos depois, em 1877, foi organizada a empresa Companhia Cantareira e Esgotos, que tinha o objetivo de explorar os serviços de água e esgotos da capital. As obras foram iniciadas e os materiais necessários foram importados da Inglaterra.

As primeiras obras construídas foram dois grandes reservatórios de acumulação para o represamento dos mananciais na Serra e, em 12 de maio de 1881, foram concluídas as obras para abastecer o dobro da população paulistana da época: 60.000 habitantes.

Pouco depois, em 1882 e 1883, os chafarizes e moradores de 71 prédios da região da Luz já recebiam água em casa desse sistema.

É dessa época, também, a conclusão das obras do reservatório velho da Consolação, que possuía 6.500 metros cúbicos de capacidade de armazenamento e servia para sanar as necessidades da região central da cidade.

Em 1893, a Companhia Cantareira começou a entrar em crise com o governo e com a população da cidade. Um dos grandes exemplos desse embate foi a demolição de alguns chafarizes que a empresa havia entregado ao público em 1882, para forçar a instalação de rede de água nos domicílios.

Essa atitude, na época, gerou grande revolta da população e, com o os serviços prestados já não eram bons, o Governo do estado assumiu os encargos e criou a Repartição de Águas e Esgotos da Capital – RAE, sendo que em 2 anos executou mais obras do que a antiga Companhia, que levava 10 anos para instalar equipamentos.

O Estado, então, ampliou a capacidade de captação de água e de proteção às nascentes e, com isso, adquiriu novas áreas na região a partir do ano de 1890. Com isso, ficou estabelecido o Parque Parque Estadual da Serra da Cantareira, com 7.916,2 hectares, sendo decretada “Reserva Florestal do Estado” e, em 1963 tornou-se Parque.

Os anos seguintes seriam dedicados a adução de vários rios para sanar a necessidade da população paulistana. Ribeirões como o Cabuçu e rios como o Guaraú e o Rio Claro sofreram desvios para tentar atender às necessidades.

Contudo, o abastecimento era deficiente já em 1940, quando a cidade recebia mais de 310 mil m³ de água por dia. Esse sistema funcionaria até os anos 70 quando se iniciou o aproveitamento das águas do Rio Juquerí, que mudaria o rumo do Sistema Cantareira.

Um Novo Plano Para Resolver o Problema

No ano de 1962, para resolver o problema de abastecimento da cidade, foi criada a Comissão Especial par ao Planejamento das Obras e Abastecimento e Distribuição de Água da Capital (CEPA), iniciando novos estudos para o aproveitamento das águas do Rio Juquerí. O projeto tinha como objetivo aproveitar as águas desse rio e, em outras etapas, aproveitar também o fluxo hidrográfico dos Rios Atibainha, Cachoeira e Jaguari.

No ano de 1968, para apoiar e ajudar a consolidar o projeto, foi criada a Comasp (Companhia Metropolitana de Águas de São Paulo), para captar, tratar e vender água potável no atacado a 37 municípios da RMSP, inclusive o próprio DAEE na capital, para isso, deveria projetar, construir e operar todas as barragens, túneis e sistemas adutores metropolitanos destinados a fornecer água potável até as redes distribuidoras das cidades, assumindo total responsabilidade pelo desenvolvimento Sistema Cantareira.

Obras de Ampliação do Sistema Cantareira em 1974.
Obras de Ampliação do Sistema Cantareira em 1974.

O Sistema Cantareira produz hoje, metade da água consumida pelos 19 milhões de habitantes da RMSP, sendo um dos maiores sistemas produtores de água do mundo com 33 m3 por segundo, tem uma área de aproximadamente 228 mil hectares e abrange 12 municípios, 4 deles em Minas Gerais.

As águas advindas do sistema são em sua grande maioria provenientes das bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (Bacias PCJ) e transpostas para a região da Bacia do Alto Tietê, onde se localiza a grande São Paulo.

O Sistema da Cantareira, atualmente, é composto por:

• Cinco reservatórios de regularização de vazões: Jaguari e Jacareí (interligados), Cachoeira, Atibainha e Juquery (ou Paiva Castro).

• Túneis e canais de interligação para transferência de água de uma represa para outra mais à jusante.

• Uma estação elevatória de água (Santa Inês), responsável por recalcar a água dos cincos reservatórios captada no último deles.

• Um reservatório (Águas Claras), que, pela capacidade e a vazão por ele veiculada, pode ser considerado “tipo pulmão”, com a finalidade de manter o fluxo contínuo de água para ETA Guaraú.

• Uma estação de tratamento de água: a ETA do Guaraú.

3 Comments

  1. o historico esta muito bom. no entanto acho que o final foi muito emcurtado e mereceria um capirulo dois explicando melhor a situacao atual, inclusive com mapas.

    1. Obrigado pela sugestão.

      Vou avaliar e tentar produzir esse conteúdo.

      Valeu e comente sempre, gosto de críticas construtivas.

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