Um Cartão Postal Na Avenida Paulista – O Conjunto Nacional

A cidade de São Paulo possui diversos cartões postais mundialmente famosos. É o caso do Copan, Viaduto do Chá, Museu do Ipiranga, MASP e muitos outros. Contudo, um dos lugares mais interessantes e belos de São Paulo acaba esquecido. Trata-se do famoso e tradicional Conjunto Nacional.

A história desse edifício começa no ano de 1952, quando José Tjurs, um argentino que vivia na nossa cidade a muito tempo, decidiu que iria construir o Conjunto Nacional. Para isso, o primeiro passo que ele resolveu dar foi comprar a mansão que pertencia à família de Horácio Sabino.

O responsável pela arquitetura do projeto do Conjunto Nacional foi o arquiteto David Libeskind, que tinha apenas 26 anos.Uma responsabilidade e tanto.

A construção do Conjunto Nacional foi iniciada em 1955 e trouxe para a cidade uma grande novidade na época: uma maravilhosa cúpula geodésica de alumínio, que foi construída pelo engenheiro Hans Eger. No ano de 1957, o local recebeu seu primeiro e grande estabelecimento: o sofisticado Restaurante Fasano. Com mesas espalhadas pela ampla calçada da Avenida Paulista, o local fervilhava de gente dia e noite. Praticamente um point para a alta sociedade da época.

Restaurante Fasano, no Conjunto Nacional, nos anos 60.

No ano seguinte, o Fasano decidiu abrir o restaurante no mezanino do edifício, onde se realizavam os tradicionais “jantares dançantes” e o requintado jardim de inverno, logo eleito o melhor e o mais elegante salão de festas da cidade, com capacidade para duas mil pessoas.

O Fasano era palco obrigatório dos grandes nomes da música internacional que visitavam São Paulo, como Nat “King” Cole, Roy Hamilton e Marlene Dietrich. O setor comercial, uma área de 61.354.5142 metros quadrados, foi destinado a um centro de compras e serviços. A inauguração da primeira etapa do Conjunto Nacional, em dezembro de 1958, contou com a presença do então presidente da República, Juscelino Kubitschek.

Vista aérea nos anos 50. Terreno aberto para a construção do Conjunto Nacional.

No início dos anos 60, o edifício instalou duas escadas rolantes no centro comercial, considerada a terceira construída na cidade.  Além disso, ao ficar pronto, nessa mesma época, no alto do edifício foi instalado o relógio luminoso da Willys.

Em 1961 foi inaugurado o Cine Astor, logo eleito o mais luxuoso e o mais moderno cinema da cidade. Outra grande atração desse centro comercial. O Fasano foi vendido para a Liquigás em 1963 por causa da situação política do país. Em 1968, o restaurante e o jardim de inverno foram fechados e o local passou por reformas para ser adaptado a funcionar como escritório. A Confeitaria Fasano permaneceu aberta até 1973.

Em 1969, outra grande marca agregaria seu nome ao Conjunto Nacional: a Livraria Cultura, fundada por Kurt e Eva Herz. No ano seguinte, em 1970, o relógio do Conjunto Nacional passou a exibir a marca da Ford.

A marca do Banco Itaú chegou ao alto do edifício em 1975. Nesse mesmo ano, surgia um pequeno restaurante chamado Viena Delicatessen, que anos mais tarde se tornaria uma das maiores redes de fast-food da cidade de São Paulo.

Contudo, no final dos anos 70, como todas as grandes obras da nossa cidade, o Conjunto Nacional apresentava sinais de decadência e abandono. Exemplo claro disso foi a madrugada do dia 4 de setembro de 1978.

Um incêndio de grandes proporções irrompeu no Conjunto Nacional, resultado da má administração e do pouco caso da empresa Horsa, que cuidava do edifício. Em 1984, o grupo imobiliário Savoy comprou o que restava dos bens da Horsa no Conjunto Nacional e passou a administrar o condomínio.

Também em 84 uma mulher começaria a mudar a história do Conjunto Nacional. A advogada Vilma Peramezza, foi eleita a síndica do lugar com a promessa de iniciar a recuperação e restauração de diversas áreas do prédio.

A promessa foi cumprida e o Conjunto Nacional voltou a se desenvolver. Dois anos depois, em 1987, o famoso Cine Rio deu lugar a outro cinema: o Cine Arte. Poucos meses depois, ele se tornou um dos melhores da cidade.

Ao mesmo tempo que importantes marcas chegavam ao Conjunto, outras áreas passavam por revitalização e restauração. Exemplo disso foi que a arquiteta Maria Cecília Barbieri Gorski, da Barbieri & Gorski Arquitetos Associados, foi responsável pelo trabalho referente ao paisagismo do terraço.

Em 1992, finalmente o relógio passou por uma grande reforma e recebeu um complexo eletrônico de última geração, controlado por computador e, além das horas, passou a marcar também a temperatura da cidade.

O terraço, reinaugurado em junho de 1997, devolveu parte do glamour que caracterizou o Conjunto Nacional nos anos 50, 60 e início dos 70. Em dezembro de 1997, foi lançada a semente da criação do Espaço Cultural Conjunto Nacional, com uma exposição que reuniu vários artistas plásticos consagrados.

Com a realização de exposições de arte, o edifício passou a fazer parte do corredor cultural em que se transformou a Avenida Paulista.

Em dezembro de 1998, o jornalista Ângelo Iacocca lança o livro Conjunto Nacional – A Conquista da Paulista. A obra foi elaborada para comemorar os 40 anos de existência do edifício, e conta a história da Avenida Paulista mostrando cada etapa de sua transformação, acelerada a partir do surgimento do Conjunto Nacional.

A partir de 1999, todo mês de dezembro, as galerias e a fachada do Conjunto Nacional passaram a ser decoradas com adereços elaborados por comunidades carentes utilizando materiais recicláveis. No final desse mesmo ano, foi instalado, no Horsa II, o painel ‘Festa na Avenida Paulista’, pintado pela artista naif Waldeci de Deus.

Em 2003, o Espaço Cultural Conjunto Nacional organizou a campanha “SOS Cine Arte”, com o objetivo de evitar o fechamento do cinema. O livro Conjunto Nacional – A Conquista da Paulista foi ampliado em mais 30 páginas. A obra foi lançada em janeiro de 2004, em comemoração aos 450 anos da cidade de São Paulo. No capítulo sobre ‘Responsabilidade Social e Qualidade de Vida’, o autor relata as várias ações desenvolvidas pelo Conjunto Nacional, voltadas à valorização dos nossos funcionários e comunidade.

Em abril de 2005, o Conjunto Nacional foi tombado pelo Condephaat, órgão estadual responsável pelo patrimônio histórico. Em outubro do mesmo ano, o Cine Bombril substituiu as duas salas do antigo Cinearte.

Anos mais tarde, em 2010, o cinema tornou-se Cine Livraria Cultura. As duas salas de cinema integram o Circuito Cinearte de exibição, de Adhemar Oliveira e Leon Cakoff.

Em maio de 2007, a tradicional sede da Livraria Cultura, no Conjunto Nacional, passou a ocupar o espaço em que funcionava o antigo Cine Astor. A nova loja é a maior livraria do país, com 4,3 mil metros quadrados de área distribuídos por três pisos.

Em março de 2008, o arquiteto David Libeskind, aos 79 anos, é tema de um livro que leva seu nome – ‘David Libeskind – Ensaio sobre as Residências’. O Conjunto Nacional é um point de muito  movimento durante os dias da semana e nos finais de semana paulistanos. Existe uma boa variedade de restaurantes por perto e a visita à livraria sempre vale a pena por sua imensidão e diversas palestras e exposições que, por vezes, acontecem por lá.