Um dos monumentos mais polêmicos dos últimos tempos é, sem sombra de dúvidas, os Arcos do Jânio. Obra que se notabilizou devido aos grafites autorizados pelo poder público nos últimos anos, foi restaurada e entregue para a população nesse ano de 2017.

Embora tenha sido tema de debates, poucos conhecem sua origem e concepção. Seu próprio nome “Arcos do Jânio” é uma iniciativa popular, afinal, sua real denominação é “Arcos da Rua Jandaia” e foi uma obra executada por imigrantes italianos com pedras oriundas da Itália nas últimas décadas do século XIX.

Construído entre 1908 e 1914, o monumento é composto por 21 módulos, em arcos separados por pilastras, o muro preenche o desnível existente entre as ruas Jandaia e Assembleia, alcançando cerca de 11 metros em seu ponto mais alto.

Aos poucos, uma faixa de terreno compreendida entre o muro e a Rua Assembleia foi ocupada por sobrados, datados da década de 1930. Construídos com os fundos voltados para o “paredão da municipalidade”, os sobrados o encobriam em grande parte.

Um projeto de reformulação viária, elaborado nos anos 60, previa a interligação das avenidas 23 de Maio, Brigadeiro Luis Antônio e a recém-aberta Radial Leste-Oeste. O processo de desapropriação de casas da Rua Assembleia foi aberto, prevendo-se sua demolição. Enquanto se efetuava o pagamento das indenizações, as casas foram invadidas por famílias carentes, situação que perdurou por vários anos.

Arcos do Jânio em 1987
Arcos do Jânio em 1987

A prefeitura obteve a reintegração de posse somente em 1987, quando foi feita a demolição das casas e a integração da área à malha viária urbana, com a criação de um acesso entre a 23 de Maio e a Radial Leste-Oeste. Assim, foram descobertos os famosos arcos, que ficaram conhecidos pelo nome do prefeito que realizou a demolição, Jânio Quadros.

A Restauração

Os gastos envolvidos no reparo do patrimônio histórico chegam à casa dos R$ 800 mil reais, sob a responsabilidade de uma empresa privada, com recurso do Fundo de Proteção do Patrimônio Cultural e Ambiental Paulistano (Funcap) somado às multas a quem viola as normas de proteção ao patrimônio público.

Segundo Nádia Somekh, diretora do Patrimônio Histórico e professora na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, a aprovação para os recursos do restauro foi feita em agosto de 2016, sendo um esforço de continuidade entre gestões da Prefeitura.

De acordo com a prefeitura, o processo incluiu a limpeza das superfícies, a remoção das pinturas antigas e o tratamento de trincas e fissuras. Ainda, o monumento ganhou proteção química para evitar novos grafites, com câmeras de segurança instaladas e projetores instalados nos arredores da construção.

A especialista em patrimônio histórico e professora de arquitetura do Mackenzie, Viviane Rubio, ressalta que falar de patrimônio histórico no Brasil é difícil, principalmente no momento em que atravessamos uma crise.

Com relação a preservação dos “Arcos da Rua Jandaia”, a profissional lembra da sua importância como patrimônio histórico da cidade, pois trata-se de uma obra de engenharia realizada por imigrantes italianos, com pedras também vinda da Itália nas últimas décadas do século XIX, feita para a solucionar deslizamentos de terras que ocorriam no local. “Acredito que a lembrança da vida de inúmeras famílias, que viviam em casarões encortiçados, também poderiam ter sido igualmente preservados, caso fosse dada devido valor a sua arquitetura e as relações ali estabelecidas”.

Viviane Rubio enfatiza ainda que é preciso capacitar os cidadãos brasileiros para o reconhecimento do valor de sua memória, pois pensar em patrimônio histórico em suas várias escalas e especificidades não é um costume no nosso País.

5 Comments

    1. Infelizmente o Brasileiro é sem memória, tem espaços dignos de visitação que são desconhecidos pela maior parte do Povo Paulistano.
      Os Arcos escondidos por muito tempo.
      Parabéns Prefeito Jânio da Silva Quadros.
      (Já falecido. O Homem da Vassoura).

  1. Ficou bonito. Na época, 1987, eu era procurador do Município e lembro da obra, que contou com resistência de muitas pessoas. Mas o Prefeito Jânio Quadros, sem querer, encontrou mais um monumento para a cidade.

  2. Qdo foram “reencontrados” causou grande impacto , seja pelo inusitado, seja pela beleza paisagistica. Apesar da opinião da arquiteta, a idéia de preservar os casarões encortiçados, não se sustenta. A região transformou-se num bonito passeio visual pela São Paulo sempre agitada. E espero que jamais, sejam autorizadas “intervenções artisticas” de péssimo gosto. Como está, ficou ótimo, e a noite, fica muito bonito. Mostra que apesar de tudo, temos memória. Só falta vergonha na cara dos governantes…

  3. Excelente artigo, de fato, sua restauração embelezou muito a região, resta agora ao poder público sua preservação.
    São Paulo merece e agradece.

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