O rio das cobras pequenas: a história do M’Boi Mirim

A história de um dos bairros que possui um dos nomes mais curiosos da nossa cidade, o M’Boi Mirim, está amplamente relacionada ao desenvolvimento da região de Santo Amaro. O começo da ocupação dessa região é datado de 1607, quando foram instalados o Engenho de Nossa Senhora de Assunção de Ibirapuera e a primeira extração de minério de ferro da América do Sul, tudo isso próxima a aldeia indígena de M’Boi Mirim. O nome da aldeia, aliás, significa “Rio das Cobras Pequenas” na língua indígena. 

O processo de extração de minério de ferro durou 20 anos. Após a desistência desse tipo de atividade, a área que era da aldeia dos índios guaianases ficou esquecida por 200 anos, servindo apenas como ponto de passagem para os viajantes em direção à região do Embu e de Itapecerica da Serra.

Foi só por volta de 1829 que se deu o segundo processo de ocupação da região. O imperador D. Pedro I, visando ocupar essas terras, convidou 129 imigrantes alemães para realizar essa tarefa. Os estrangeiros toparam a ideia e deram início ao processo de colonização do M’Boi.

Três anos após a chegada dos alemães, a região de Santo Amaro, que incluía a aldeia do M´Boi Mirim, foi elevada à categoria de município. Em pouco tempo grande parte da batata, marmelada, farinha de mandioca, milho e carne consumidos em São Paulo, e também a madeira, areia e pedras utilizadas nas construções eram produzidos no novo município.

Foi isso que levou à inauguração da primeira ligação de bondes movidos a vapor entre as duas cidades, em 1.886. No começo do século XX, a famosa empresa The São Paulo Tramway, Light & Power decidiu represar o rio Guarapiranga, afluente do Pinheiros, para regularizar a vazão do Tietê durante a seca.

O fato de já existir o transporte nas proximidades acabou colaborando com a escolha do local para a construção e consumação da represa Guarapiranga. Durante o período de estiagem, as águas do Guarapiranga deveriam ser represadas e descarregadas no Rio Pinheiros para, assim, alimentar as turbinas da Usina de Parnaíba.

Dessa maneira, novas pessoas passaram a se interessar pela região. Imigrantes alemães e italianos começaram a chegar nos finais de semana para praticar esportes como caça, pesca e diversas outras modalidades aquáticas. A área onde hoje fica o Jardim Ângela ficou conhecida como a Riviera Paulista, devido à beleza das margens da represa e era amplamente frequentada pelas pessoas da região.

A Modernização e Extinção do Município de Santo Amaro      

Apesar da grande receptividade da região do M’Boi Mirim e de Santo Amaro, alguns fatores externos acabaram convergindo para a extinção do município de Santo Amaro. O principal acontecimento foi a inauguração do Aeroporto de Congonhas, no ano de 1934, que foi o ponto final do antigo município.

Por volta da década de 50 a região do M´Boi Mirim sofreu um processo de ocupação muito mais agressivo. Essa história teve início com o desmembramento dos antigos sítios e chácaras em lotes. No auge do processo industrial, diversas vilas começaram a surgir na zona sul. Eram, na maioria, moradias dos operários que estavam chegando de vários estados e do interior paulista para trabalhar nas fábricas que se instalaram em Santo Amaro. 

Eles foram chegando lentamente até a grande explosão que aconteceu a partir do fim da década de 60, quando a ocupação tornou-se desordenada, inclusive em áreas de preservação, como na região dos mananciais.

Nesse período, a região cresceu também em aspectos positivos. Em setembro de 1974, ganhou o Parque Municipal Guarapiranga, com projeto elaborado pelo escritório Burle Marx e Cia. Posteriormente, em 1977, foi inaugurado outro ícone da região: o Centro Empresarial de São Paulo, localizado no Jardim São Luis.