Um Rio Escondido em SP: O Saracura

A estrutura da nossa cidade foi extremamente modificada durante os mais 460 anos em que nossos ancestrais passaram por aqui. Nós, enquanto cidadãos e moradores, também ajudamos nessas alterações metropolitanas. Mas até que ponto mexer com a natureza é benéfico para o nosso convívio e para evitar alguns acidentes? Um dos temas mais discutidos dos últimos tempos foi, sem sombra de dúvidas, a questão da falta de água e do grande racionamento pelo qual nosso estado passou. Mas será que precisaríamos passar por tudo isso se cuidássemos melhor dos nossos rios?

Buscando informar e resgatar a memória de tudo que conhecemos, começamos a pesquisar sobre os rios que foram canalizados e soterrados pela nossa cidade. O nossos resgate começará, hoje, pelo Córrego do Saracura (nome que homenageia um pássaro), riacho que nasce próximo ao MASP, na Avenida Paulista. Segundo um bom documentário feito pela Folha de S. Paulo,  a região da Avenida Paulista é o grande divisor de águas entre as bacias do Rio Pinheiros e do Rio Tietê. O vale, localizado atrás do MASP, é por onde corre o Rio Saracura, um dos córregos formadores do Rio Anhangabaú.

Esse córrego é um dos muitos escondidos de SP, nascendo atrás do Maksoud Plaza, a duas quadras da Avenida Paulista. A mais famosa avenida, aliás, é o berço de quase todos os rios da nossa cidade. Os que nascem do lado dos Jardins desaguam no Rio Pinheiros. Os que brotam do lado da Bela Vista desembocam no Tietê. Deste lado está a Ribeirão Preto onde na altura do número 529 existe um desses espaços de céu aberto.

O Vale do Saracura, registrado pelas lentes de Vincenzo Pastore, em 1910

Não sei se ainda é possível encontrar essa nascente, mas há alguns anos, era possível ver o Saracura seguindo as  curvas da Alameda Campinas e da Rua Dr. Seng. No fim desta rua havia um beco, vegetação abundante, umidade e taiobas, um tipo de planta que só cresce em terrenos com água o ano inteiro.

É sob a Cardeal Leme que corre o Saracura.  Um dos símbolos da Vai-Vai é justamente a saracura, ave de pernas finas abundante naquela região por volta de 1920, quando o asfalto ainda não tinha engolido o ribeirão. A saracura deu nome ao córrego, aos moradores do Bexiga e virou personagem de diversos sambas, como Tradição, de Geraldo Filme:

O samba não levanta mais poeira

Asfalto hoje cobriu o nosso chão

Lembrança eu tenho da Saracura

Saudade tenho do nosso cordão.

Quem nunca viu o samba amanhecer

vai no Bexiga pra ver, vai no Bexiga pra ver.

Estima-se que o Saracura tenha mais de dois metros de largura e que ganhe um grande fôlego ao encontrar o Itororó, na altura da Praça da Bandeira e o Bixiga, que vem da Rua Japurá, formando o Anhangabaú.  Os três seguem juntos pela Rua Carlos de Souza Nazaré, ao lado da 25 de Março, até desembocarem no Tamanduateí, o rio – esse sim um riozão – que acompanha a Avenida do Estado.

Vale do Saracura em foto que deve ter sido feita entre 1910 e 1920. Fonte: Agência USP de Notícias

Embora não seja “tamponado”, como são chamados os rios cobertos, as muretas nas laterais fazem com que poucas pessoas saibam que naquela avenida feia e cinza corre um dos rios mais importantes da cidade. Quando o Saracura chega ao Tamanduateí, suas águas jorram tão feias e cinzentas quanto a Avenida do Estado.

http://veja.abril.com.br/brasil/tem-um-rio-no-meio-do-caminho/

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/03/1247524-a-cinza-e-arida-sao-paulo-esconde-a-historia-de-300-cursos-de-rios.shtml

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/04/1439998-conheca-a-historia-do-rio-saracura.shtml