O Largo Da Batalha E A Homenagem A Portugal

O Largo da Batalha, localizado em Moema, na cidade de São Paulo, carrega uma alcunha histórica que, em sua raiz, nada tem a ver com a história brasileira. Para ser mais exato, trata-se de, praticamente, uma homenagem à história de Portugal.

Tudo começa com a um sentimento de medo que Portugal sentiu no século XIV.  Essa história se inicia com o falecimento de D. Fernando, o nono rei da corte portuguesa, que faleceu no ano de 1383. O finado monarca tinha uma filha, D. Beatriz, que, por direito, iria suceder seu pai no trono português. Contudo, havia um grande e incômodo problema: seu esposo, D. João I, era o rei de Castela, o que resultaria em uma “anexação” de Portugal à Espanha, fato que causaria enorme desgosto no país.

Assim, sem figuras de linguagem, o rei português seria um castelhano, um espanhol, fato inadmissível para grande parte da população. Mesmo com essa “contradição” entre o pedido do povo e seu marido espanhol, D. Beatriz se tornou rainha do país lusitano rachando a população.

Uma parte dos portugueses apoiavam a decisão da rainha, reconhecendo-a como sua soberana, mas grande parte do país achava aquilo um absurdo e a consideravam uma monarca ilegítima e indigna de ficar no poder. A partir de então, vários golpes se sucederiam até que a rainha caísse.

O mais importante deles foi desferido pelo irmão do finado D. Fernando, chamado D. João Mestre de Avis. Em uma tentativa desesperada de abater o governo de Beatriz, Dom João assassinou o Conde Andeiro, um conselheiro da viúva de D. Fernando, que, supostamente, era o “regente” do país.  Apesar de soar como um enredo de novela mexicana, a história relata que esse atentado, de fato, enfraqueceu o poder real estabelecido.

Após a morte de Andeiro, o Mestre de Avis foi apoiado e aclamado pela população e por alguns nobres que já estavam contra a rainha Beatriz. Com medo de alguma represália contra sua filha, D. Leonor, a viúva, recorreu ao genro D. João I, para que ele usasse os meios necessários para manter Beatriz no poder. Ciente de que sua posição era contestada em Portugal, o rei espanhol enviou seus homens para Lisboa, a fim de caçar o “rebelde” João.

A Batalha de Aljubarrota

Nesse contexto aconteceu um cerco dos homens de Castela a mais importante cidade portuguesa daquela época. Essa manobra foi uma das mais demoradas da história das guerras medievais. Além da demora para as conclusões das batalhas, a peste negra e o desentendimento entre os soldados castelhanos ajudaram os portugueses a se manterem firmes contra a ofensiva rival.

Com a resistência da população, o Mestre de Avis ganhou força nos “bastidores” portugueses e a população o nomeou com o título de Regedor e Defensor do Reino. Contudo, do outro lado, D. João I continuava irredutível em sua ambição de conquista e diversas tentativas de invasão ao território português foram realizadas.

A mais famosa batalha desse processo foi a de Aljubarrota, que aconteceu em agosto de 1385, tendo como protagonista o Regedor português. Ele foi o responsável por planejar um ataque próximo à cidade de Leiria. Na ocasião, junto a D. Nuno Pereira Álvares, os portugueses lutaram bravamente contra os castelhanos e utilizaram arqueiros e besteiros que se organizavam em fileiras para derrotar os inimigos. Mais do que isso, conhecendo o terreno acidentado da região, os portugueses preparavam diversas armadilhas, como as “covas de lobo”, onde os homens cavavam fossos e os disfarçaram encobrindo com folhagem.

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Após esse terrível embate, as forças de Portugal se dividiram para proteger o território: a maior e mais numerosa ficava na retaguarda e possuía o comando de D. João. Na linha de frente, ficava a parcela menor do exército sob o comando de D. Nuno Álvares Pereira. Na esquerda e direita, mais duas alas importantíssimas que cobriam os ataques, seja com flechas, seja com ajuda física, mas sempre operando para cobrir os pontos fracos do exército.

A disposição dos soldados foi tão bem feita que, os homens de Castela, quando viram os soldados portugueses, recolheram suas lanças, pois pensavam ser fácil alcançar à vitória.

Porém, foram surpreendidos por uma inteligente manobra envolvendo todo o exército lusitano, que os rodearam e começaram a atacar com uma estratégia chamada “tática do quadrado”. Assim, os homens de Portugal terminaram o conflito em vantagem numérica. Portugal saiu vitorioso, com mais homens e mais armas, evitando que o país continuasse dependente de Castela.

O saldo final da guerra acabou sendo a deposição da rainha e o começo da Dinastia dos Avis e, para celebrar a vitória e agradecer o auxílio divino que acreditava ter recebido, D. João I mandou construir o Mosteiro de Santa Maria da Vitória e fundar a vila da Batalha.

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