A via mais famosa de São Paulo: a rua Augusta

Entre as muitas ruas e avenidas da cidade de São Paulo, a Avenida Paulista e a Rua Augusta estão entre as mais famosas. A primeira, devido ao seu grande fluxo econômico, é uma parada indispensável para quem precisa e faz negócios diários. A segunda, atualmente voltada à vida noturna, é um ícone para quem busca diversão, interação e socializar.

No texto de hoje vamos resgatar a memória da Augusta trazendo algumas curiosidades para vocês. Há pouco tempo tive o prazer de ganhar o livro “Rua Augusta- A Calçada da Glória”, escrito por Cleber Ragazzo. Recheado de fotografias e memórias da época, incluindo carros e vestimentas, o livro traz alguns esclarecimentos sobre a história da via.

Segundo a publicação, as primeiras referências à atual Augusta são datadas de 1875, quando a rua ainda era uma trilha que ligava a entrada da Chácara do Capão, atual Rua D. Antonia de Queiroz, com a antiga Estrada Real Grandeza, atual Avenida Paulista. Em 1891 aconteceu a primeira prolongação da via, chegando ao centro, na atual Rua Caio Prado. Anos depois, entre 1910 e 1912, acontece uma nova obra de prolongamento, dessa vez chegando até a Rua Álvaro de Carvalho.

Uma curiosidade sobre o tamanho da via fica por conta que, até o ano de 1942, a Martins Fontes fazia parte da Augusta. Do outro lado da via, sentido Jardim América, o prolongamento foi oficializado em 1914, chegando a atual rua Estados Unidos.

O Nome “Augusta”

A maior curiosidade que cerca a via fica por conta de seu nome. Antes de contar as suas possíveis origens, vale dizer que não há uma conclusão sobre de onde essa nomenclatura surgiu. Algumas pessoas dizem que Augusta era uma pianista, outros falam que era uma moça da família Sousa e Castro.

Apesar de alguns historiadores acreditarem que a via chegou a se chamar até “Maria Augusta”, o Dicionário de Ruas  considera que o  português Mariano Antonio Vieira, responsável pela abertura da rua, “não quis homenagear uma pessoa, e sim aplicar algo como um título de nobreza (ou adjetivo) ao chamá-la de ‘Rua Augusta’”.

Infelizmente, como não existem dados consistentes, a nomenclatura da Augusta talvez seja um mistério eterno para a cidade. Entretanto, o significado dessa localidade para a cidade pode ser relembrado. O começo da década de 50, em nível global, marca o surgimento das primeiras influências de fenômeno que começava aparecer nos Estados Unidos e em parte da Europa: uma cultura juvenil.

Rua Augusta com paralelepípedos, e linha de ônibus elétrico, década de 60

No Brasil essa influência também fez parte do nosso cotidiano, mas de maneira um pouco diferente, fazendo com que os jovens rompessem alguns padrões impostos pela sociedade vigente da época e começassem a “tomar” as ruas. Talvez o maior símbolo desse fenômeno juvenil foi o grande programa Jovem Guarda, que passava na TV Record em 1965 e durou até 1968.

Não é exagero dizer que a Jovem Guarda foi uma conexão da indústria musical com a indústria da moda, que visava criar novos ídolos pop com uma inspiração no modelo britânico dos Beatles. Seguindo a “moda” internacional, vários empresários lançaram roupas focadas na moda como: saias, calças, coletes, cintos, etc.

Rua Augusta, no sentido Jardins, nos anos 60

Assim, tanto no visual como no estilo, os integrantes da famosa Jovem Guarda Brasileira representava o ideal buscado por cada jovem brasileiro, que queria ser moderno, urbano, “descolado” e sempre com as últimas novidades vestidas em seus corpos.

Se a Jovem Guarda representava tudo isso para os jovens, a Augusta era o campo perfeito para desenvolver esse mercado. Dois anos antes do lançamento do famoso “Jovem Guarda”, em 1963, uma letra de música já dava o tom da via:  “Entrei na rua Augusta a 120 por hora/ Botei a turma toda do passeio pra fora/ Fiz curva em duas rodas sem usar a buzina/ Parei a quatro dedos da vitrina”.

Composta por Hervé Cordovil, a música já dava o tom do que se esperava da rua: um espaço de liberdade onde era possível transgredir algumas normas e regras sociais. O local, por muito tempo, serviu como vitrine para a alta sociedade paulistana.

Entretanto, com o passar dos anos, a identidade da via foi mudando. Os jovens, por assim dizer, podiam passear, conferir as novidades da moda, namorar, dançar, andar sem compromisso e interagir. E, para que não sejamos injustos, aos sábados era uma tradição a via ser fechada, iniciativa que foi adotada para a Paulista inteira ano passado.

A rua se tornava um boulevard  com mais de 3 mil metros de extensão, 18 travessas e tinha a Paulista para cortá-la. Ao mesmo tempo em que todo esse conceito de moda e liberdade se desenvolvia, os amantes da via tinham muito que aproveitar por ali.

No entorno existiam cinemas como o Paulistano, o Majestic, o Picolino e o Astor, confeitarias como a Metro e a Yara, bares como o Escócia e o Chez Moi, lanchonetes como o Frevo e o Frevinho, o Lancaster e o Hot Dog, boates como a Bilboquet, e butiques como Pharafernália, Pandemonium, Kleptomania e Ao Dromedário. Havia ainda a loja de discos Hi-Fi, onde era possível escutar música em cabines individuais, a Livraria Cultura e o espaço cultural Casa de Goethe. Ou seja, uma vasta lista de possibilidades para uma juventude ávida por novidades.

A Augusta também foi palco de filmes, como o famoso O Puritano da Rua Augusta, de 1965 e dirigido por ninguém menos do que Amácio Mazzaropi. A ideia do filme é simples: abordar o conflito de geração e de valores: ele interpreta um pai de família conservador que vive a criticar seus filhos jovens por achar que eles não vivem de acordo com a “moral e os bons costumes”.

Após sofrer um ataque cardíaco, o personagem muda seu comportamento, passando a agir como um típico jovem da época: adota cabelo comprido com franja, veste roupas modernas, ouve, canta e dança rock n’roll. E, claro, começa a frequentar a rua que era o reduto da “juventude”.

Outro filme famoso é o Essa Rua Tão Augusta, um curta-metragem dirigido por Carlos Reichenbach, onde ele mostra o cotidiano e o consumo apresentado de maneira bastante irônica. Fora toda essa história que contamos, a Augusta ainda é palco de diversas curiosidades, como quando toda sua extensão foi coberta com carpetes em 1973, no Natal.

A Rua Augusta nos anos 60

A ideia foi trazida pela firma inglesa Cia. City e o projeto ficou a cargo do arquiteto inglês Barry Parker e foi feito do dia para noite. Outra curiosidade é que a rua é “separada” de acordo com o público que a frequenta. Quando pegamos a Augusta em direção ao Jardins ela é conhecida como “Alta Augusta”, ou seja, os locais onde estão os melhores lugares da rua como, por exemplo, as galerias Galeria Ouro Fino e Galeria Le Village.

O outro sentido, sentido “Centro”, seria a Baixa Augusta. Região de baladas, bares e até mesmo algumas casas de prostituição. Apesar disso, a região da Baixa Augusta é extremamente movimentada durante toda a semana. Dezenas de festas acontecem por lá englobando todos os gostos e estilos. É um outro universo dentro da nossa cidade.

Referênciashttp://vejasp.abril.com.br/cultura-lazer/instituto-goethe-meio-seculo-de-existencia/

Livro: “Rua Augusta- A Calçada da Glória”, escrito por Cleber Ragazzo