Apesar do autódromo de Interlagos ser um lugar extremamente conhecido devido às grandes corridas que ali ocorreram, pouca gente sabe que o lugar foi rebatizado como Autódromo José Carlos Pace. Nascido na cidade de São Paulo no dia 6 de outubro de 1944, Pace foi um grande nome do automobilismo nacional. Sua paixão por automobilismo começou junto com o Kart e seus amigos, Emerson e Wilson Fittipaldi e Jan Balder, nos anos 60.

A primeira corrida que participou foi o II Prêmio Aniversário do Automóvel Clube do Estado de São Paulo, com um DKW preparado por eles. Iniciou sua carreira profissional, entretanto, em 1966, aos 22 anos, correndo provas de Turismo. Pouco tempo depois, em 70, já disputava e ganhava o campeonato inglês de Fórmula 3. Devido ao grande e rápido progresso, Pace recebeu um convite para participar da Fórmula 1 na temporada de 1972, pela novíssima equipe Williams, que, por falta de recursos, ainda usava os carros da temporada anterior, que pertenciam à equipe March.

Vale aqui um destaque que Pace era um cara extremamente tímido e que não gostava de lidar com a imprensa. Por esse motivo, foi apelidado de “Moco”, nomenclatura que carregaria por toda sua vida.

Pace Na Fórmula 1

A temporada de 72, como dito anteriormente, foi a primeira de Pace na Fórmula 1 e, como grande parte dos estreantes, foi um ano difícil. Com um carro muito mais fraco que o dos concorrentes, ele conseguiu poucos, mas ótimos resultados em sua estreia. Para se ter uma ideia, ele conseguiu conquistar três pontos no ano, chegando em 6º lugar na Espanha e 5º lugar na Bélgica. Dos integrantes da Williams, Pace foi o único a pontuar naquele ano.

Após os bons resultados de 73, Pace se aventurou em novas modalidades automobilísticas sem, claro, largar da fórmula 1. Nesse ano, ele  disputou três corridas de F2 pela Surtees e o World Sportscar Championship pela Ferrari, dividindo uma 312PB com Arturo Merzario. Com o italiano, Pace conquistou o segundo lugar e, dizem, que Enzo Ferrari o convidou para pilotar a Ferrari, mas por fidelidade à Surtees, Pace permaneceu na scuderia para aquela temporada.

Mesmo diante de um cenário desfavorável, Pace conquistou 7 pontos e fechou o mundial de 73 em 11º lugar. Obviamente que, mesmo com esses resultados considerados por ele como “fracos”, ele estava muito acima de seus companheiros de equipe que pouco puderam fazer na temporada. No ano seguinte, a redenção. Surge o convite para que Pace se torne um piloto da Brabham onde, finalmente, poderia demonstrar todo seu talento. Foi então que ele subiu ao pódio pela primeira vez ao terminar o GP dos Estados Unidos em 2º lugar.

Aqui, cabe uma curiosidade. Na véspera do GP dos EUA, Pace contou à imprensa que, na noite anterior, sonhara com seu falecido pai. Tradicionalmente, Pace usava um capacete com uma seta apontada para baixo, logo no topo da viseira. Contudo, em seu sonho, o patriarca da família apareceu e lhe disse: “A flecha apontada para baixo pesa muito, meu filho, livre-se desse peso”. Aparentemente seu pai estava certo. Após se acertar com o carro, em 1975, ele era considerado um piloto extremamente arrojado e considerado um dos grandes candidatos ao título daquele ano. No primeiro grande prêmio da temporada, aliás, ele liderava com alguma folga a corrida quando, por problemas mecânicos, foi obrigado a abandonar a prova.

José Carlos Pace
José Carlos Pace

Na corrida seguinte, a explosão de alegria. O segundo grande prêmio da temporada de 1975 foi no Brasil onde Pace conquistaria sua 1ª vitória na categoria. Além disso, nesse ano aconteceu a primeira dobradinha brasileira da história Fórmula 1 (Emerson Fittipaldi foi o segundo).

Foi uma emoção muito grande  e motivo de grande comemoração por parte do piloto. Nesse ano, ele ainda conseguiria mais dois pódios, mas, com vários problemas mecânicos, foi obrigado a deixar várias corridas para trás e terminou o mundial em 6º lugar. No ano seguinte, em 1976 ele faria uma “aparição” no cinema. O piloto foi convidado para gravar algumas cenas do filme Bobby Deerfield, como dublê de Al Pacino.

Luiz Carlos Pace em Interlagos
Luiz Carlos Pace em Interlagos

A história trazia um piloto de F1 extremamente obcecado por vencer, mas que depois de testemunhar um acidente fatal e ferir um rival em um acidente, passa a ser assombrado pelo medo da morte. Em todas as cenas que “Bobby Deerfield” pilota seu carro, é Pace quem aparece.

Além disso, o ano também foi importante devido às modificações técnicas que ocorreram em sua equipe. A Brabham abandonou os motores Cosworth DFV em favor dos Flat-12, da Alfa Romeo.

Com as novidades, ace conseguiu pontuar em três corridas com um sexto lugar no GP da Espanha, e dois quartos lugares na França e na Alemanha — a mesma corrida que quase matou Niki Lauda.

A Fatalidade E O Brasil Perde Um Piloto

No ano de 1977, Pace sofreria um terrível acidente que colocaria fim à sua grande trajetória no automobilismo. Diferente dos terríveis acidentes que levariam Senna e Villeneuve, Pace acabou batendo um avião de pequeno porte, em uma árvore na Serra da Cantareira, em São Paulo.

Sua partida foi um duro golpe em todo o automobilismo mundial e ele ficou conhecido, devido ao seu talento, dedicação e frieza, como: “O Campeão Que Nunca Conquistou Um Título”. Bernie Ecclestone, importante dirigente da Fórmula 1, mais especificamente da Brabham, chegou a dizer uma vez que:  “Ele tem tudo que um campeão precisa. É uma boa pessoa, trata todo mundo bem, dedicando muito tempo aos mecânicos e demais membros da equipe, por isso todos gostam muito dele. Pra mim é autêntico corredor de primeira classe e acredito que será um excelente campeão, ainda este ano. Na minha opinião, sua principal virtude é a vontade de lutar. Como dizem vocês no Brasil: tem muita garra.”

Carro de José Carlos Pace
Carro de José Carlos Pace

Em sua homenagem, o autódromo de Interlagos foi rebatizado, em 1985, para José Carlos Pace. Uma lembrança de um grande brasileiro que orgulhou o país mundo a fora. Em 1990, no local, foi inaugurado um busto em sua homenagem, na entrada do acesso principal, no portão 7.

Alguns Pequenos Relatos de Pace Fora Das Pistas

Fora das pistas, a maioria das pessoas gostava do jeito de ser dele. A seguir veja alguns comentários de algumas pessoas, que fizeram parte de sua vida e sua carreira:

“O foco dele não era somente corridas de automóvel, como o dos outros. Era na verdade um grande bonachão, um grande sujeito” – Chico Rosa.

“Sua personalidade era complicada, mas ele era afável, até dócil e gentil no trato. Os europeus gostaram daquele estilo…” – Luís Carlos Secco.

Parabéns Pace
Parabéns Pace

“Na pilotagem era um macho… Foi um mestre em superar desafios… Na mesma medida não perdeu a doçura, o encantamento. Eu estava na África do Sul, em 1973, na companhia do jornalista Chico Júnior. Tínhamos que voltar a Johanesburgo para enviar nossas matérias. Estávamos a pé, buscando uma carona. O Moco nos viu, perguntou o que estávamos fazendo e não pensou duas vezes. Saltou de seu próprio carro e nos emprestou, voltando ele mesmo a pé ao autódromo. Foi incrível…” – Lito Cavalcante.

“…Já na Fórmula 1… , Me viu na rua, debaixo de chuva esperando um táxi. Mudou o caminho e, fazendo festa, me levou onde eu queria ir. Ele jamais mudou, a fama não o afetou” –Washington Bezerra.

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