Um Espaço Verde Abandonado – A História do Parque D. Pedro II

Uma das áreas mais esquecidas da cidade de São Paulo, o Parque Dom Pedro II, já foi um espaço de lazer para os paulistanos e motivo de muito orgulho para a administração pública devido à sua beleza e capacidade de entretenimento.

Muito tempo antes da região ser conhecida como Parque Dom Pedro II, toda a área era chamada de Várzea do Carmo. Aqui, uma curiosidade paulistana: a primeira parte do nome, “Várzea”, é oriunda das cheias do rio Tamanduateí e “do Carmo”, vem da igreja dos carmelitas, conhecida como igreja do Carmo, que também nomeava a ladeira e a ponte no fim dela. Nos dias de hoje, esse antiguíssimo trecho corresponde à Avenida Rangel Pestana.

Durante muitos anos, as margens do nosso Tamanduateí serviram para local de banho, para o trabalho da lavadeiras e, claro, como de hábito aqui no Brasil, para o despejo de lixo em suas límpidas águas. Com o passar dos anos e o aumento da densidade populacional ao redor das margens do rio, as enchentes passaram a ser um problema considerável aos moradores do local.

Parque Dom Pedro em evidência

Para se ter uma ideia do tamanho do incômodo, no ano de 1810, o poder público tentou construir uma vala no centro da várzea, um “piscinão” do século XIX, para barrar os constantes alagamentos do Tamanduateí. Mesmo com todas essas dificuldades, o Tamanduateí seguia com suas curvas pela várzea e auxiliando no desembarque das canoas que vinham com mercadorias das fazendas de São Bernardo, São Caetano, Ipiranga. Mas que porto seria esse? O Porto Geral que nomeia uma importante ladeira próxima à Rua 25 de março.

Essa rotina de alagamentos, canoas e desembarques durariam até o ano de 1849, quando começaram as primeiras obras de retificação do Tamanduateí assinadas pelo famoso engenheiro Carlos Bresser. Com as obras iniciadas, a região perdeu as sete voltas e se tornou uma rua que, com o passar do tempo, começou a ser chamada de Rua de Baixo, já que ficava na parte baixa da metrópole. No ano de 1865, finalmente, a rua passou a ter o nome que conhecemos hoje: 25 de março, nome utilizado em homenagem à Primeira Constituição feita pelo Império que foi promulgada em 25 de março de 1824.

Parque Dom Pedro II e o Rio Tamanduateí em 1972

Já para o fim do século XIX a retificação total do Tamanduateí já era um plano “pronto” e ganhou impulso para ser “finalizada”. Na gestão de João Theodoro, Presidente da Província entre 1872 e 1875, foi realizada a canalização do primeiro trecho do rio que tinha como grande objetivo transformá-lo em uma reta, em especial, na região entre o Brás e a Luz. Além disso, vale o destaque que Theodoro foi o responsável por colocar jardins e conceber a Ilha dos Amores, iniciativas única e exclusivamente suas que o caracterizaram como um dos primeiros urbanistas do país.

Anos depois do seu mandato, mais especificamente em 1880, o poder público volta a discutir um plano de “embelezamento” da Várzea do Carmo, além de procurar novas soluções para as constantes enchentes que ainda atingiam a população daquela região.

Uma Solução Parcial e a Construção do Parque

Foram necessários 30 anos de debates e discussões para que o executivo paulistano resolvesse tomar uma decisão sobre aquela terrível situação. Finalmente, em 1910, ficou decidido que seria erguido um parque, onde participariam a iniciativa privada, o poder público estadual e municipal. O local escolhido foi indicado pelo arquiteto francês Joseph Antoine Bouvard, chefe dos serviços de paisagismo e de vias públicas de Paris. A ideia foi aprovada em 1914 e entregue a população em 1922.

Vista Panorâmica do Parque Dom Pedro II em 1940

Dessa forma, some a famosa Várzea do Carmo e surge o imponente Parque Dom Pedro II que, com sua grande quantidade de árvores, se torna um dos mais amplos, espaçosos e importantes espaços públicos da cidade de São Paulo. Cerca de dois anos depois, no ano de 1924, corroborando a importância e a ideia do poder paulistano de transformar a região, é concebido o Palácio das Indústrias.

Contudo, com a chegada da década de 30 e o intenso crescimento econômico e demográfico da cidade, praticamente todas as construções dos tempos coloniais e do império passam a ser destruídas e a cidade “europeia” começa a desaparecer. É nesse período, aliás, que surge o Plano de Avenidas que mudaria completamente a estrutura do Parque.

O Plano do famoso engenheiro Prestes Maia foi a primeira proposta voltada à cidade de São Paulo. Ela foi pensada de maneira total e não em partes. Em 1938, quando Prestes Maia é nomeado prefeito, seu plano passa a ser executado. A principal característica de sua ideia é a política voltada ao transporte rodoviário e a tentativa de “cópia” das metrópoles americanas.

Parque D. Pedro em foto tirada no Palácio das Indústrias

No final dos anos 50, dentro do plano, o parque teve sua estrutura alterada e acabou sofrendo intervenções, como cinco viadutos, pavimentação da Avenida do Estado no trajeto do Tamanduateí e várias outras obras. A concepção da Avenida do Estado, aliás, é o marco para o começo da degradação do parque. O terminal de ônibus, surgido em 1971, a estação Pedro II do Metrô e várias outras ideias do poder público, acabaram degradando e destruindo o espaço do parque aos poucos, resultando em, agora, um espaço de transição e não mais de interação com a cidade.