Uma Resposta Intelectual – Surge a Universidade de São Paulo

Após os terríveis acontecimentos da revolução de 32 e com a derrota de São Paulo nas batalhas travadas contra as tropas getulistas, o estado sentiu a necessidade de responder a altura, mas dessa vez no campo dos estudos e do pensamento.
Partindo do princípio que era preciso ter uma elite pensante capaz de contribuir para a melhoria do país e o aperfeiçoamento do governo, um grupo de empresários se reuniu e fundou a Escola Livre de Sociologia e Política (ELSP), em 1933. Vale o destaque que essa instituição se tornaria, anos mais tarde, a atual Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.

O surgimento da ELSP foi a semente para que, em 1934, o famoso Armando Sales criasse a Universidade de São Paulo (USP), que surgiu da fusão da recém-criada Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) com as já existentes Escola Politécnica de São Paulo, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Faculdade de Medicina, Faculdade de Direito e Faculdade de Farmácia e Odontologia Aos mais curiosos, seguem a fundamentação do Decreto nº 6.283, de 25 de janeiro de 1934, e seus artigos 1º e 2º foram os seguintes:

“O doutor Armando de Salles Oliveira, Interventor Federal do Estado de São Paulo, usando das atribuições que lhe confere o decreto nº 19.398, de 11 de novembro de 1930; e considerando que a organização e o desenvolvimento da cultura filosófica, científica, literária e artística constituem as bases em que se assentam a liberdade e a grandeza de um povo;

– considerando que somente por seus institutos de investigação científica de altos estudos, de cultura livre, desinteressada, pode uma nação moderna adquirir a consciência de si mesma, de seus recursos, de seus destinos;

– considerando que a formação das classes dirigentes, mormente em países de populações heterogêneas e costumes diversos, está condicionada a organização de um aparelho cultural e universitário, que ofereça oportunidade a todos e processe a seleção dos mais capazes;

– considerando que em face do grau de cultura já atingido pelo Estado de São Paulo, com Escolas, Faculdades, Institutos, de formação profissional e de investigação científica, é necessário e oportuno elevar a um nível universitário a preparação do homem, do profissional e do cidadão,

Decreta:

Art. 1º — Fica criada, com sede nesta Capital, a Universidade de São Paulo.

Art. 2º — São fins da Universidade: a) promover, pela pesquisa, o progresso da ciência; b) transmitir pelo ensino, conhecimentos que enriqueceçam ou desenvolvam o espírito ou sejam úteis à vida; c) formar especialistas em todos os ramos de cultura, e técnicos e profissionais em todas as profissões de base científica ou artística; d) realizar a obra social de vulgarização das ciências, das letras e das artes, por meio de cursos sintéticos, conferências, palestras, difusão pelo rádio, filmes científicos e congêneres.”

Na época, o famoso Sergio Milliet profetizou que: “de São Paulo não sairão mais guerras civis anárquicas e, sim, uma revolução intelectual e científica suscetível de mudar as concepções econômicas e sociais dos brasileiros”.

Os Sistemas de Ensino E A Fusão de Várias “Escolas”

Com a fundação dessas duas instituições, algumas coisas foram estabelecidas para formar um novo panorama de ensino em São Paulo.

A ELSP tinha o objetivo de ensinar e formar elites administrativas que pudessem conduzir o estado e o país por uma nova era que estava por vir, com uma atuação cada vez maior do Estado em todos os assuntos importantes aos cidadãos do país. A USP, por sua vez, pretendia preparar e capacitar professores para as escolas secundárias e, assim, torná-los especialistas nas ciências básicas.

A grande influência de ensino que influenciou a ELSP veio da sociologia norte-americana. A Faculdade de Filosofia da USP, por sua vez, voltou seus olhos ao mundo acadêmico francês.

Diversos professores estrangeiros vieram lecionar em território nacional. Nomes como: Roger Bastide, Emílio Willems, Donald Pierson, Pierre Monbeig e Herbert Baldus, entre outros, difundiram nas duas instituições novos padrões de ensino e pesquisa, formando as novas gerações de cientistas sociais no Brasil.

A mistura entre a cultura e a política também surtiu resultados na criação do Departamento de Cultura da cidade de São Paulo, em 1935, sob a administração de Fábio Prado. Nesse órgão várias personalidades paulistanas deram sua contribuição, como: Paulo Prado, Mário de Andrade, Antônio de Alcântara Machado, Rubens Borba de Moraes e Sergio Milliet.

Além desses grandes nomes, professores estrangeiros como: Claude Lévi-Strauss, Fernand Braudel, Roger Bastide, Emílio Willems, Donald Pierson, Pierre Monbeig e Herbert Baldusvieram à São Paulo difundir seus conhecimentos, padrões de ensino, formas de pesquisa e experiência de vida para formar e educar a nova geração de cientistas sociais do país.