A Herança Indígena em São Paulo – O Bairro da Mooca

Um dos bairros mais tradicionais da cidade de São Paulo vem sofrendo com o processo de verticalização, mas possui, em sua história, grande parte do que a cidade é hoje. Estamos falando do histórico bairro da Mooca.

A região da zona leste de São Paulo é, ainda, parecido com uma cidade do interior. As relações entre os moradores são cordiais, o bairro atende a todos os serviços necessários e o clima é muito agradável em todas as suas regiões.

Historicamente, a primeira citação encontrada do Bairro da Mooca é de 1556, quando os então governantes de Santo André da Borda do Campo comunicavam que  todos estavam “obrigados a participar da construção da ponte do rio Tameteai (Tamanduateí)”.

Essa ponte se fazia necessária para a ligação entre zona leste e a região da Sé. A região leste era habitada pelos índios da tribo Guaiana (tupi-guarani), que deixaram algumas marcas tradicionais no bairro, inclusive seu próprio nome.

Segundo historiadores, o vocábulo é oriundo do Tupi Guarani e possui duas versões, MOO-KA (ares amenos, secos, sadios) e MOO-OCA (fazer casa), expressão usadas pelos índios da Tribo Guarani para denominar os primeiros habitantes brancos, que erguiam suas casas de barro.

Outros historiadores dão como certo que o mesmo é de origem asiática MOKA, que significa variedades de café, que vinha antigamente da cidade de MOCA (Iêmen), porto do Mar Vermelho. Existe uma outra versão para o surgimento do bairro, descrita no livro “A Igreja na História de São Paulo”.

Vista aérea da Mooca em uma imagem do Acervo do Memorial do Imigrante

Nele, o autor informa que a primeira referência ao bairro é datada de 1605, quando o local ainda era conhecido como Arraial de Nicolau Barreto, onde Brás Cubas construiu a capela de Santo Antônio, mais tarde transferida para a Praça do Patriarca, onde se encontra até hoje.

Segundo os historiadores, a região leste de São Paulo, onde se situa o bairro da Mooca, deve ter sido o local da maior concentração de índios de toda São Paulo e até do Brasil. O elemento indígena foi tão forte que, independente do ano em que foi “fundado”, deixou sua lembrança  no nome do bairro: Mooca.

A Mooca Na História de São Paulo

No ano de  1876 um acontecimento importante marcou a história da Mooca: Rafael Paes de Barros, senhor de muitas terras na região, que se estendiam até a Vila Prudente e Vila Alpina, criava o Clube Paulista de Corridas de Cavalo, atual Jockey Club.

O Jockey ficava no sopé das chamadas colinas da Mooca, no mesmo local onde hoje está instalada a Administração Regional da Mooca. Em conseqüência disto, um ano depois, para atender aos apaixonados pelo esporte, foi criada a linha de bonde Mooca-Centro, movida a tração animal.

Estava formado um centro de lazer, logo freqüentado pela sociedade do café, que vinha do Centro para apostar grandes somas nas corridas de cavalo, inclusive onde a Marquesa de Santos, já envelhecida, era uma das animadoras das corridas.

Vale ressaltar que a Mooca foi escolhida para a localização do Turfe de São Paulo porque era um ambiente de alta categoria, considerado um bairro excelente para se morar. O “Prado” permaneceu no local por 64 anos.

E mais imigrantes por aqui chegaram e se instalaram: espanhóis, portugueses e na década de 30 os hungareses, como eram chamados os imigrantes da Europa Central e Ocidental.

O Desenvolvimento da Mooca

A partir da transposição do rio Tamanduateí, acelerou-se o adensamento da área que foi gradualmente incorporando-se à cidade.

O desenvolvimento urbano da Mooca está associado à história econômica de São Paulo. Um dos fatores mais importantes para a evolução da Zona Leste foi à instalação de duas ferrovias: em 1868 a São Paulo Railway (Estrada de ferro- Santos Jundiaí), assim conhecida como a Inglesa, ligando São Paulo ao porto de Santos e em 1875, a Estrada de Ferro do Norte (o trecho paulista da estrada de ferro Central do Brasil), ligando São Paulo ao Rio de Janeiro.

Entre os novos bairros surgidos, destacam-se Belém e Mooca que atraíram numerosas fábricas. As áreas próximas das ferrovias foram as preferidas pelas indústrias, já que o transporte das matérias-primas dependia dos trens.

Essas indústrias utilizavam a mão-de-obra imigrante que aportava em Santos e era trazida para a Casa da Imigração (hoje Museu dos Imigrantes). Os operários e suas famílias se instalavam nas proximidades de seus empregos ajudavam a desenvolver o comércio local.

Após a primeira guerra mundial a industrialização de São Paulo ganhou novo impulso, acarretando a ampliação do parque industrial desta região.

Em 2002, foi aprovada a lei das Subprefeituras, que agregou à Mooca os distritos do Brás e do Pari, que antes pertenciam à Subprefeitura Sé. Entre as grandes atrações que o bairro reserva podemos destacar:  o Estádio do Juventus, Teatro Arthur Azevedo, Cotonofício Rodolfo Crespi e a Pizzaria São Pedro.

Cotonifício Crespi e alargamento da avenida Paes de Barros, bairro da Mooca, em 1970

A Revolução de 24 e As Consequências Para O Bairro

O bairro da Mooca também enfrentou grandes problemas durante sua grandiosa história. Estamos no ano de 1924 e os oficiais do exército brasileiro estão descontentes com o governo do Presidente da República, o mineiro Arthur Bernardes.

Com isso, foi deflagrado um movimento nacional que, em São Paulo, resultou na derrubada do então presidente do Estado, Carlos de Campos. O Governo Federal reagiu e acabou massacrando a população de toda a cidade. A revolta durou 23 dias e deixou como 503 mortos e 4846 feridos, em sua grande maioria civis.

Tanques de guerra prontos para a batalha durante a Revolução de 1924.

Preocupados com a amarga e, então, recente experiência de Canudos, os oficiais estavam convencidos de que só pelo arrasamento inicial de grande parte da cidade, com a ação conjunta de aviões e artilharia, seguida do ataque às trincheiras pelos carros de assalto, completado pela baioneta, na luta corpo a corpo, seria possível esmagar o levante paulista.

Os bairros da Mooca, Belenzinho e Brás foram os primeiros a sofrer as conseqüências desse plano. Movidos por grande desespero, os moradores começaram a abandonar suas casas.

As famílias mais abastadas procuravam sair da cidade, com destino a Santos, Jundiaí, Campinas e outras cidades. Muitos, não tendo onde se abrigar, acampavam ao ar livre, armando barracas improvisadas em locais ermos dos bairros. Desta forma, o dia 13 de julho desse ano foi particularmente dramático para os paulistanos, especialmente para os moradores da zona leste.

A Mooca na década de 30.

Em 23 de julho, nova tragédia. Dois aviões carregados com bombas começaram a sobrevoar a cidade a elevada altitude, para evitar a artilharia dos rebeldes e atacaram a Mooca. A terra tremeu com as explosões, casas desabaram e, infelizmente, muita gente morreu.

E logo se percebeu porque este bairro fora escolhido: não encontrando muitos civis dispostos a se engajar na luta, os militares rebelados procuraram imigrantes italianos, húngaros e alemães, todos muito pobres, e lhes ofereceram 30 mil réis e a promessa de 50 hectares de terra. Muitos não resistiram a mirabolante proposta e se alistaram. Como a Mooca era reduto de trabalhadores italianos, acabou castigada.

Contudo, com o passar do tempo e muito esforços de seus fiéis moradores, a Mooca foi se reerguendo e recebendo uma aura de tradicional bairro paulistano por todos os moradores da cidade. Hoje, é considerada um dos mais tradicionais bairros da cidade e conta com a simpatia de todos os moradores da metrópole.