A missão do Frei João Batista e a Capela Cristo Operário

Meio “escondida” na Rua Vergueiro está o símbolo que podemos chamar de legado do grupo católico economia e humanismo. Em São Paulo, essa iniciativa foi implantada, com relativo sucesso, pelo frei dominicano João Batista Pereira dos Santos, que teve apoio de intelectuais, empresários e pessoas “comuns” da sociedade civil.

A capela Cristo Operário surgiu do que o frei João Batista aprendeu no centro de pesquisa Economia e Humanismo, na França, na década de 40.

Segundo o pesquisador Mauro Claro, a ideia surgiu em decorrência da visita de Batista à Comunidade de Trabalho Boimandou, em Valence, França, criada por um grupo de operários cristãos, em 1940. 

Esse organização de trabalhadores cristãos foi o primeiro degrau para que surgisse, em 1941, também na França, o “grupo católico Economia e Humanismo”, liderado pelo padre dominicano Louis-Joseph Lebret.

A ideia era a de envolver a igreja católica em questões econômicas de relevância, para criar soluções que pudessem combater as desigualdades sociais geradas pelo capitalismo industrial. Em resumo, era um experimento social de primeira categoria, nunca antes colocado em prática em São Paulo.

Toda essa teoria foi posta à prova com a construção da Capela Cristo Operário, em 1950. Erguida pela sugestão do frei João Batista, a obra contou com a colaboração financeira dos moradores do Ipiranga, além de contribuições artísticas do MAM e de artistas relevantes para o cenário nacional, como: Alfredo Volpi (executou afrescos do altar e quatro vitais laterais), Yolanda Mohalyi (três murais), Bruno Giorgi e Moussia (esculturas), Elisabeth Nobiling (luminárias), Geraldo de Barros (vitral) e Burle Marx (desenhou os jardins).

Vitral do evangelista Lucas, feito por Alfredo Volpi para a Capela do Cristo Operário, em São Paulo

Ao redor dessa capela foi erguida uma casa paroquial, um posto de saúde, uma escola infantil e, em 1954, as oficinas moveleiras, parte importante dessa história. Foi nesse ano que o Frei João Batista, o artista Geraldo de Barros, o serralheiro Antônio Thereza e o engenheiro Justino Cardoso, fundam a Unilabor, cooperativa de trabalho que alcançou relativo sucesso comercial.

De 1954 até 1967 a Unilabor funcionou no chamado modelo de autogestão, onde os trabalhadores da empresa eram sócios e dividiam os lucros com a venda dos móveis desenhados por Geraldo de Barros.

De estilo concretista, os móveis domésticos eram vendidos à classe média simpatizante à Capela do Cristo Operário. A empresa chegou a funcionar com um sistema de produção em série, contou com cerca de 100 trabalhadores e possuiu quatro lojas, sendo três delas na capital paulista e uma em Belo Horizonte.

Vitral do evangelista Mateus, feito por Alfredo Volpi para a Capela do Cristo Operário, em São Paulo

O Itaú Cultural fez uma análise profunda e artística do que foi disponibilizado pela Unilabor. Destaco o seguinte parágrafo:

“No entanto, o projeto social da Unilabor está voltado para a melhoria das condições de vida e de trabalho da classe operária, e não para a produção de móveis de boa qualidade a preços populares. Sua clientela é formada por uma classe média alta interessada em se identificar com um projeto moderno de caráter social progressista, sendo os móveis inacessíveis às camadas sociais de baixa renda.”.

Além das atividades fabris, a Unilabor também ofereceu outras benesses para a comunidade, como aulas de catequese, ações culturais e pedagógicas, projeções de filmes, debates para conscientização política, etc.  A partir de 1964, com a chegada da Ditadura Militar e a ineficiência do modelo de autogestão, a Unilabor começou a ruir. 

Conflitos internos entre administradores acabaram com a empresa, que foi dissolvida em 1967. 

Capela Cristo Operário por volta de 1950. Foto do Acervo da PMSP

Referências: http://www.sagradafamiliaop.com.br/capela-cristo-operario

https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16133/tde-04032013-103923/pt-br.php

https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16133/tde-04032013-103923/publico/tese_mauroclaro_original.pdf