O Palácio das Indústrias e a II Exposição de Automobilismo

O Palácio das Indústrias, atual sede do Museu Catavento, dedicado às exposições científicas e disseminação desse tipo de conteúdo, já foi palco de diversas feiras. De feiras de alimentos à exposição de veículos. Uma das mais marcantes foi a II Exposição de Automobilismo, realizada em 1924.

Segundo a revista Boas Estradas, editada pela Associação das Estradas de Rodagem, da qual faziam parte: Antônio Prado Júnior (presidente), Julio Prestes (vice-presidente), Domicio Pacheco e Silva (secretário) e Mariano Procópio A. Carvalho (tesoureiro), a II Exposição de Automobilismo foi realizada entre os dias 4 e 15 de outubro de 1924.

Importante contextualizar a feitura desse evento: à época, no primeiro quarto do século XX, o grande frisson era o investimento no segmento rodoviário. Abrir estradas, construir rodovias, atrair indústrias automobilísticas para o Brasil e, até mesmo, a realização de provas para “incentivar” a normalização dos carros no cotidiano do Brasil e, por tabela, em São Paulo. 

Para se ter uma ideia, poucos anos depois dessa exposição, em 1927, a Câmara Municipal de São Paulo derrubou um plano de transporte público subterrâneo, com a combinação de bondes elétricos terrestres, que a Light tinha para o Centro de São Paulo.

A derrota é atribuída à morte de Carlos de Campos, que foi presidente do Estado de São Paulo e esteve na II Exposição de Automobilismo. Ele era um defensor dos interesses da Light, mas foi sucedido por Washington Luís, rodoviarista fanático e que ficou famoso por dizer que governar era abrir estradas.

A perseguição aos modais elétricos, como bondes, foi um fenômeno global. No Brasil essa questão foi liderada por Washington Luís e Getúlio Vargas que, por exemplo, taxaram a importação de materiais para a manutenção e montagem de bondes, o que onerou e praticamente inviabilizou o modal.

Ao mesmo tempo, Vargas, então ministro da fazenda do governo do presidente da república Washington Luís, isentou de vários impostos as empresas que importassem caminhões e automóveis. 

Uma frase da revista Boas Estradas que usamos como fonte, representa bem o ideal da época relacionado aos veículos: “A I Exposição demonstrava, cabalmente, a necessidade, a “indispensabilidade”, permitta-se-nos o neogolismo, de se effectuar no Brasil um certamen deste genero, tal o progresso do automobilismo entre nós, tanto em qualidade, quanto em quantidade…”

Dito isso, vamos ao evento que citamos no começo do texto.

II Exposição de Automobilismo

A exposição foi realizada no Palácio das Indústrias, com a participação de empresas gigantes, como Ford, Dodge, entre outras. O evento era tão respeitado e esperado que houve até um “turismo de negócios”, com as pessoas vindo do interior e litoral para conferir as novidades do mercado. 

As ferrovias da época colaboraram para a exposição ser um sucesso: cobraram apenas a passagem de ida, no trajeto ida e volta, em todas as estações de São Paulo de seus ramais. O presidente do estado, Carlos de Campos, além de outras autoridades, como o embaixador português no Brasil, chegaram a visitar o espaço.

A feira recebeu, segundo os organizadores, mais de 70 mil pessoas que puderam aproveitar, além de tudo que havia de mais moderno sobre veículos, marcas como: a Companhia Antarctica Paulista, a Sociedade Rádio Educadora Paulista, uma empresa de Toucadora para senhoras e até o Mappin estava presente, com artigos para viagens e turismo.

Para finalizar as atividades da feira do dia 5 de outubro foi realizado um desfile pelas ruas de São Paulo. Parte dos veículos que estavam expostos, inclusive participaram. A fila foi puxada por um Lincoln, oferecido pela Ford, que levou os integrantes que organizaram a feira.

Eles fizeram o seguinte trajeto:  Avenida Brasil, Avenida Brigadeiro Luiz Antonio, Avenida Paulista, a região do Paraíso, volta pela mesma avenida até a Avenida Angélica, Alameda Eduardo Prado, Alameda Barão de Rio Branco, Palácio do Presidente do Estado, Largo Paysandu, Rua Líbero Badaró, Rua Direita, Rua XV de Novembro, Ladeira General Carneiro e o Palácio das Indústrias.

Confiram imagens exclusivas do desfile e da feira: 

Fontes: Revista Boas Estradas – 1924, edição 00040, pode ser acessada aqui: http://memoria.bn.br/DocReader/167843/24

Livro São Paulo – 1934 -1938, os anos da administração Fabio Prado 

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