Um dos filmes que mais fez sucesso em 2020/2021 foi o Radioatividade, que pode ser visto na gigante de streaming Netflix. O filme, uma cinebiografia, conta a história da polonesa Marie Curie, uma das maiores cientistas da história. Responsável pela descoberta dos elementos rádio e polônio, além de cunhar o termo “radioatividade”, Curie ganhou dois prêmios Nobel. Mas, o que toda essa história tem de relação com São Paulo?

Pesquisando sobre a cientista, descobri que ela visitou nossa cidade em 1926, mais especificamente no dia 13 de agosto, quando o Correio Paulistano publicou a seguinte manchete (sempre respeitando a grafia da época): “Chegará hoje, a esta Capital, a notavel scientista madame Curie”.

O destaque da matéria fica pelo seguinte trecho: “Vai, pois, a nossa cidade hospedar um dos mais celebres scientistas da nossa época, com uma bagagem notabilíssima de estudos, que assignalam um novo e poderoso passo das sciencias physicas e uma inapreciavel conquista da civilização humana.

Em carro especial ligado ao nocturno de luxo e posto à sua disposição pelo governo do Estado, deverá chegar hoje pela manhã a esta capital, mme. Curie, a grande scientista que virá acompanhada de sua filha senhorita Curie e das senhoritas Pereira Queiroz, Bertha Luts e Carvalho de Araujo.

Na estação do norte, mme. Curie será recebida pelos representantes do governo, Dr. Pedro Dias, director da faculdade de Medicina e Cirurgia; dr. Ferraz vice-director em exercício da Escola Polytechinca, entre outros”.

“Mme Curie realizará, ainda hoje, às 20h30, em um dos amphitheatros do novo predio da Faculdade de Medicina, à rua Theodoro Sampaio, a unica conferencia sobre o rádio que fará nesta capital.”.

Vale o registro que a cientista se hospedou em um luxuoso hotel, o Terminus, que ficava na rua Brigadeiro Tobias, 576, esquina com a Rua Washington Luís. Esse empreendimento ficou no mesmo local até 1943, quando parou de funcionar. A cientista ficou pouco em São Paulo, se dirigindo logo no dia seguinte à “Thermas de Lyndoia”. 

Na época, um imponente vagão foi colocado à disposição para que Curie pudesse fazer a viagem com conforto. O patrono desse vagão foi o italiano Francisco Antonio Fusco Tozzi, dono de um hotel na cidade (atual) de Águas de Lindóia. Como curiosidade, a cientista, ao examinar as águas da região, confirmou a presença de radioatividade no local. Na volta do interior, ela ainda parou em Santo André, para observar uma estação biológica na região e já se preparou para, dia 16, partir para Belo Horizonte.

Jornal O Correio Paulistano de 4 de novembro de 1926, onde está o anúncio da venda da fonte “Madame Curie”

O destaque negativo de toda a cobertura da viagem da cientista fica por conta do artigo do Jornal Folha da Manhã, do dia 23 de agosto. O título do artigo foi bastante tendencioso: “Como as vezes vemos retribuídas as nossas excessivas atenções e cortezias para com visitantes illustres”.  

O texto usa de uma liberdade de opinião para falar mal da visita da cientista ao país. A reportagem chega a julgar o aspecto físico de Curie, alegando que quem esperava para ouvir uma grande sábia, no fim acabara ouvindo uma mulher modesta, simples e que falou despretensiosamente sobre as descobertas.

Há também uma pequena insinuação de que ela apenas continuara o trabalho de Pierre, ou seja, ela apenas era uma continuadora das ideias de seu marido. Por fim, há a curiosidade de que Marie Curie não gostava de ser fotografada.

Sem mais tempo para ficar em São Paulo, a cientista foi para Belo Horizonte.

Breve Biografia

Marie Sklodowska Curie, nascida na Polônia em 1867, foi uma química e física extremamente relevante para a história do mundo moderno.

Foi ela quem deu nome ao termo e descobriu dois novos elementos químicos: o rádio e o polônio. Seu primeiro Prêmio Nobel – pelas pesquisas sobre radiação, em 1903 – foi dividido com seu marido Pierre Curie e o físico Henri Becquerel. O segundo, em química, em 1911, deveu-se à descoberta do elemento rádio.

Marie Curie em um de seus laboratórios

Além disso, Marie encabeçou a implementação de um sistema de radiografia móvel durante a Primeira Guerra Mundial que ajudou no tratamento de milhões de soldados. Marie também contribuiu para a ciência ao aprisionar o gás que emanava do elemento rádio e enviar os tubos para o tratamento do câncer em hospitais do mundo inteiro.

Outro legado de Marie foi sua filha, Irène Joliot-Curie. Inspirada pela mãe, Irène trabalhou com o marido, Frédéric Joliot, nos campos da estrutura do átomo e física nuclear, demonstrando a estrutura do nêutron e descobrindo a radioatividade artificial, feito este que rendeu mais um Prêmio Nobel para a família Curie.

Referências:  http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/22349 (Jornal O Correio Paulistano do dia 13 de agosto de 1926)http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/23397 (Jornal O Correio Paulistano de 4 de novembro de 1926, onde está o anúncio da venda da fonte “Madame Curie”)

Livro – A Visita de Marie Curie no Brasil, de Braga, Joao Pedro, Nascimento, Cassius Klay 

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