Quem anda por São Paulo e presta atenção nos detalhes da cidade já reparou que em determinadas avenidas existem pequenos “violões” de concreto. Para ser justo, existem também grafites por aí e, até mesmo, miniaturas dos vilões por toda a cidade.

A iniciativa de fazer “violões” em cimento, quem diria, se deu por conta da decisão da prefeitura em apagar grafites com a tinta cinza. Um “escape” de criatividade em São Paulo!

Conversamos com o Heneh, artista responsável pelas obras, que nos deu vários detalhes, alguns até desconhecidos, dessas obras de arte. Se quiser ver nossa primeira entrevista, com um dos fotógrafos mais polêmicos de SP, só vir aqui.

Sobre o artista:  Nascido em 1985 em São Paulo, se formou em design gráfico e começou a intercalar seu trabalho com pequenos projetos de arte até meados de 2012, quando passou a se dedicar inteiramente na construção de uma identidade artística.  Influenciado por arte urbana, assim como desenhos antigos da década de 30, quadrinhos underground e por surrealismo, Heneh se inspira em artistas como Escher, Dalí, Walt Disney e o jazzista Chet Baker.

Começou a realizar murais por toda cidade de São Paulo elevando o grau do seu trabalho para intervenções em esculturas de concreto e peças de resina e metal deixadas em lugares específicos para uma interação maior com o público. Abaixo, as curiosidades de toda essa criatividade! 

1) Desde quando você trabalha com arte?

Eu sempre tive envolvimento com desenho e escultura, uma coisa que faço desde pequeno. Na faculdade fui para o design de produto e gráfico, mas só em 2017 que resolvi me dedicar totalmente ao trabalho autoral. Foi um processo natural com o decorrer dos anos e ainda sigo experimentando novas maneiras de me expressar.

2) De onde veio a ideia desses “violões”? Eles têm algum nome?

Eu já grafitava pela rua o meu personagem de maneira tradicional, com tinta acrílica e spray. A ideia de volume e esculturas em concreto veio em manifesto à lei antipichação, onde muitos artistas vinham tendo suas obras apagadas pela prefeitura com tinta cinza.

Meu pensamento era criar uma obra de vanguarda que pudesse combater a situação atual com algo novo, que interagisse com o ambiente e o comportamento das pessoas que passassem pela obra. Desde então já foram colocados dezenas de peças nos lugares mais variados e todo tipo de interação já aconteceu, alguns completamente destruídos, outros restaurados pela própria prefeitura ou pintado de cinza.

Junto com os de concreto também tem as minis de resina e os micros de metal. Esses menores são uma extensão desse projeto e que também estão espalhados pela cidade.

3) Qual foi o primeiro desses violões espalhados/instalados em SP?

O primeiro foi no Masp em uma das laterais, de frente para faixa de pedestres, em 2018. Eu queria botar meu experimento em prática e queria validar algumas questões que estavam no conceito para seguir adiante.

A obra no Masp não era pintada, mas era assinada e o objetivo era me apropriar de uma área pública do museu e assinar, para saber quanto tempo iria durar e quais seriam as reações de quem passa pela paulista e principalmente do Masp em relação ao que eles consideram arte, e como eles iriam lidar com uma intervenção urbana completamente diferente e nova na cidade.

Primeiro “violão” do artista ficava ao lado do Masp

O que mais impressionou foi o relato dessa pessoa de dentro do Masp que disse que mesmo assinando a obra, o museu demorou uma semana para saber do que se tratava.

Além disso, me lembro que depois de algum tempo um funcionário da manutenção predial conseguiu me encontrar na internet e disse que houve uma confusão no departamento de curadoria onde não sabiam se era uma ação interna de algum artista do museu ou se era uma intervenção de alguém de fora. A peça ficou uma semana no seu lugar original e depois de confirmado que era uma ação de alguém de fora, a peça foi retirada.

Segunda obra ficava na ciclovia da Paulista

4Eles estão em outras cidades/estados?

Ainda não coloquei em outros estados, pois as obras de concreto pesam mais de 40 kilos e fica complicado levar as obras, mas tenho vontade.  Por enquanto já enviei a pessoas os modelos menores para serem colados aqui e fora do Brasil. 

5) Por que um violão?

Não faço ideia. Não toco nenhum instrumento de corda, a obra não tem corda e nem deixa específico quantas cordas teria. Prefiro deixar a interpretação livre.

Processo de feitura da obra

6) Você recebe muitas críticas por fazer sua arte em locais que não têm autorização?

O preconceito com a arte está atrelado com a sua procedência, como relatado na experiência do Masp.

Se fosse usado latas de spray no lugar de uma obra em concreto, o grafite tradicional seria apagado no mesmo dia. Criando esse novo conceito do que e onde a arte urbana deve ser avaliada, vi que muita gente ficou confusa em pensar que uma obra tridimensional e de concreto deveria ser considerado como vandalismo.

7) Quais as teorias mais legais sobre esses violões?

Muitas pessoas me marcam em links quando veem alguma foto das obras por aí.

Quando me marcam eu acho legal e até reposto algumas imagens para guardar os registros, mas quando vejo que estão discutindo o que pode ser, não interfiro porque o mais interessante pra mim é saber que a obra gera interação. 

Tem gente que imagina um violão, outras um ukelele ou, até mesmo, um cavaco. Já me mandaram discussões de grupos de bairros onde tenho obras com gente discutindo o que poderia ser, fotos do Instagram com teorias baseadas onde as obras foram colocadas.

É muita coisa, fora as obras de concreto tenho mais duas obras de tamanhos menores que são complementares e causam mais dúvida e interação do que imaginei no começo! E isso é ótimo, não é todo dia que você vê um tipo de intervenção que expande o conceito de uma obra de arte urbana além dos muros e que pode estar em qualquer lugar.

One Comment

  1. Já notara os violões porém honestamente passara-me pela cabeça algo funesto: que fossem homenagem a atropelados que tocavam violão! Parecerá um deslate, admito, mas vivemos numa cidade com tantas mortes por atropelamento, como a daquela moça morta na Avenida Paulista, quando pedalava em sua bicicleta, que foi oque me passou pela cabeça. Folgo em saber que é algo mais lírico.

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